Sporting Memories
Quando a esquadria ainda era de madeira,
A tv era televisão em preto-e-branco--
Discriminação desnecessária
porque não tinha tv em outras cores—
E a Philips naquele pedestal roído desde
sua primeira estréia,
sua primeira semana
atacado, corroído pela maresia,
e a antena sempre periclitante,
o potenciômetro da vertical e,
na pior das hipóteses, a horizontal,
e acertar aquilo tudo ao mesmo tempo
pra ver Capitão Furação ou
Eu Compro Essa Mulher.
Quando tudo se acertava, desde sua primeira maresia,
Seu primeiro golpe, minha irmã querendo me encher de porrada
Só porque eu não gostava do Capitão Aza,
Ou me sacaneando porque ela muito mais velha do que eu
E não morria de medo dos Incas-Venusianos
Ou dos Seres Abissais que populavam o estranho universo
Nipo-irradiado do National Kid.
E à noite, entre confabulações secretas
da mulherada caseril--mãe, avó, cozinheira e copeira
e irmã.
Quando não era novela era coisa pior.
Pelas cortinas poeirentas daquele posto três
Onde entreouvi mamãe e avós e tias tramarem
Limpezas étnicas no meio de Copa
no meio da Copa de ‘66
Porque tinha um ponto de táxi na esquina
E motorista de táxi era sempre português
E eles tinham acabado com a carreira do Pelé
Naquele jogo em Liverpool
Ceifando-lhe (não foi isso que disseram, mas vale mesmo assim)
As pernas, a carreira, o futuro.
Pois Mamãe morreu,
Pelé ganhou a Copa do Mundo em México ‘70
Os táxis viraram fuscas
E nenhum dos capitães – Aza ou Furação – comeu
Nem a Martinha nem a Elisângela,
Mesmo que eu viesse a entreter
as mais intensas dúvidas
Quanto ao comportamento
De um playboy de capacete e óculos escuros
No meio do espaço em órbita
Ao lado de uma ninfeta sideral.
Entre mármores e cortinas eu apenas caminhava meus passos.
Uma das tias induziu o conceito de ser Fluminense.
E Vovó odiava futebol.
E Mamãe morreu antes que eu tivesse a ocasião pra perguntar
Pra ela por que e como que ela parecia ser
Tão vagamente
Botafogo.
Só resta hoje a minha irmã.
Leitora convicta de Nelson Rodrigues
que não há de se lembrar de nada disso,
julgando-me um bobo.
Quando era ela, repito,
A sem-clube, sem-estado,
Flor de outra várzea,
Totalmente Tupi
quando eu já era Globo
Quando a esquadria ainda era de madeira,
A tv era televisão em preto-e-branco--
Discriminação desnecessária
porque não tinha tv em outras cores—
E a Philips naquele pedestal roído desde
sua primeira estréia,
sua primeira semana
atacado, corroído pela maresia,
e a antena sempre periclitante,
o potenciômetro da vertical e,
na pior das hipóteses, a horizontal,
e acertar aquilo tudo ao mesmo tempo
pra ver Capitão Furação ou
Eu Compro Essa Mulher.
Quando tudo se acertava, desde sua primeira maresia,
Seu primeiro golpe, minha irmã querendo me encher de porrada
Só porque eu não gostava do Capitão Aza,
Ou me sacaneando porque ela muito mais velha do que eu
E não morria de medo dos Incas-Venusianos
Ou dos Seres Abissais que populavam o estranho universo
Nipo-irradiado do National Kid.
E à noite, entre confabulações secretas
da mulherada caseril--mãe, avó, cozinheira e copeira
e irmã.
Quando não era novela era coisa pior.
Pelas cortinas poeirentas daquele posto três
Onde entreouvi mamãe e avós e tias tramarem
Limpezas étnicas no meio de Copa
no meio da Copa de ‘66
Porque tinha um ponto de táxi na esquina
E motorista de táxi era sempre português
E eles tinham acabado com a carreira do Pelé
Naquele jogo em Liverpool
Ceifando-lhe (não foi isso que disseram, mas vale mesmo assim)
As pernas, a carreira, o futuro.
Pois Mamãe morreu,
Pelé ganhou a Copa do Mundo em México ‘70
Os táxis viraram fuscas
E nenhum dos capitães – Aza ou Furação – comeu
Nem a Martinha nem a Elisângela,
Mesmo que eu viesse a entreter
as mais intensas dúvidas
Quanto ao comportamento
De um playboy de capacete e óculos escuros
No meio do espaço em órbita
Ao lado de uma ninfeta sideral.
Entre mármores e cortinas eu apenas caminhava meus passos.
Uma das tias induziu o conceito de ser Fluminense.
E Vovó odiava futebol.
E Mamãe morreu antes que eu tivesse a ocasião pra perguntar
Pra ela por que e como que ela parecia ser
Tão vagamente
Botafogo.
Só resta hoje a minha irmã.
Leitora convicta de Nelson Rodrigues
que não há de se lembrar de nada disso,
julgando-me um bobo.
Quando era ela, repito,
A sem-clube, sem-estado,
Flor de outra várzea,
Totalmente Tupi
quando eu já era Globo
12 Comments:
Claro que lembro, meu irmao! De tudo! Eu Compro Essa Mulher e a Leila Diniz bem novinha ... Good times! bibi
OK OK ... Tinha me esquecida da TV Tupi mas tambem pudera, ne?
E, PS, Mamae e Botafogo? Por causa das cores e do bairro. Mulher em geral escolhe nessa base. Nao sabia nao?
By Anônimo, at 19/9/06 07:27
Bom dia querido!
Nao entendi nada do que voce escreveu...
By Iara Alencar, at 19/9/06 07:50
Acho que vou arrumar um cachorro pra mim cuidar.
Pois nas novelas as moças que andam com cachorro sempre se dão bem e arrumam namorado.
Porra!!quando voce vai tirar estes codigos chatos!!?
By Iara Alencar, at 19/9/06 07:51
Iara, esse texto é incompreensível para quem tiver menos de 40 anos de idade.
Já os códigos chatos: nem pensar. Não quero ver esse blog entupido de mensagens robóticas...
By cjb, at 19/9/06 10:51
Eu sou uma mocinha...26 anos.
Mas, balla, estes codigos sao chatos demais, alem do mais é so gente de familia que vem aqui.
Vou almoçar, bom almoço.
Hoje tem arroz, feijão, bife e salada..
By Iara Alencar, at 19/9/06 11:05
Oi, Chris!Nossa eu posso não ter todo esse tempo de vida, mas vou te dizer que agora foi você que transportou para lá!Adorei!!Muito bom seu texto, depois vc é que me chama de escritora, hein?Esse poema-crônica ou seja lá como os baitolas da Academia o classifiquem é simplesmente um quadro de letras, eu vi tudo que vc descreveu, excelente narrativa!
Falando nisso, os IncasVenusianos são nossos parentes, pois todas as mulheres são de Vênus!Ou estou errada, qual será a ligação entre eles e a mulher moderna, será que Darwin explica?Beijos!
By Larissa Silva, at 19/9/06 13:13
Po, so eu que não entendi o texto?
By Iara Alencar, at 19/9/06 15:58
Larissa, acho mais do que pertinente sua observação sobre o parentesco. Quanto aos homens, não me resta dúvida que somos descendentes em linha direta dos Seres Abissais.
By cjb, at 19/9/06 18:44
Oi Bibi... bem lembrado... Uma pergunta: Beto Rockefeller, a novela que mudou a novela, foi ao ar na TV Record ou na TV Rio? Você se lembra?
By cjb, at 19/9/06 20:10
Meu irmao ... Nao me lembro onde Beto foi ao ar. Tou achando na Record mas nao tenho certeza nao. (Qual era a 6?) So me lembro o quanto me comoveu aquela estoria, aqueles atores suberbos e as atrizes maravilhosas naquelo momento NACIONAL importante, e como eu ficava acordada ate tarde no meu quarto escuro esperando o show comecar as 10. Me lembro tambem da emocao que tive quando a novela terminou ... Viva Sao Paulo. Gostei demais na epoca da surra que SP deu no Rio com o Beto!
E, ai, voltando ao Globo ... castigo tem que ser assim rapido afinal ... Verao Vermelho com a Dina Sfat.
Adorava a danada da Dina Sfat. E Leila, durante OCEM, acabou com o rosto destruido por acido. Uma malvada a desfez. Nunca me esqueco dessa. Levei um susto na hora. Special effects pra epoca ... A+
Like I said, good times and even better novelas, Potira!
By Anônimo, at 19/9/06 23:01
Big Balla, teu texte sempre suspreendente. Bom pra caraca! O Beto acho que foi na record, nao sei. Pode ter sido na Tupi. Sei la...National Kid, os capitaes e a Martinha e Elisangela foi do Peru.
Abs
Pedro Goulart
By Anônimo, at 19/9/06 23:05
Grande Pedro, grande primo (eu também sou Goulart).
Havemos ainda de escavar o fundo deste mistério arqueológico de Beto Rockefeller e o canal pelo qual teria ido ao ar.
Guarde um espaço nessa ilha maravilhosa onde você vive para o próximo refugiado que há de aportar.
Mais cedo, ou ao mais tardar.
By cjb, at 19/9/06 23:34
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