Notas Avulsas

domingo, setembro 10, 2006

Amanhã já foi outro dia

Amanhã será dia 11 de setembro de 2006: quinto aniversário dos ataques que vieram em manhã de céu azul.

Aqui em Washington, e suponho que em New York seja ainda mais agudo, amanhã não teremos trégua do noticiário ou do comentarismo comemorativo, por assim dizer.

Naquela segunda semana de setembro de 2001 eu já morava no mesmo lugar onde ainda moro hoje. Em Arlington, Virginia, do outro lado do Potomac do distrito federal. A cinco minutos sem trânsito da Casa Branca, cinco sem trânsito do Pentágono. E ao lado do Arlington National Cemetery, onde estão enterrados centenas de milhares de anônimos, alguns desconhecidos, JFK, e meu avô e minha avó, veteranos da 1ª e 2ª guerra mundial.

Pois naquela 3ª feira em setembro peguei um táxi daqui de casa pro escritório e reparava como a chuva da noite anterior limpara de todo o ar. Um céu azul profundo, um dia de temperatura e humidade reduzidas. Céu de Brigadeiro, naquela terça. Ou, como dizem os pilôtos por aqui, Extreme Blue.

Ao chegar no meu cubículo e ligar o computador chega o diretor da minha área, loquaz, alarmista e repetitivo como sempre, porém dessa vez conciso:

“Um bimotor colidiu com um dos Twin Towers ainda agora.”

E eu “calma, não há de ser nada.”

Ligo a BBC World e vejo o que julgava ser a animação de uma aeronave penetrando uma das torres, a outra já em chamas.

Not an animation.

E em seguida vejo uma coluna de fumaça em outra tomada das câmeras saíndo, subindo do Pentágono. Logo: um terceiro míssil.

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Nosso escritório fica a três ou quarto quarteirões do Capitólio. Fomos disepensados do serviço. Voltei pra casa à pé, as calçadas de Washington apinhadas de gente. O asfalto um enlace imóvil de metal, gasolina, motoristas solitários e uma ou outra eventual buzina. O ar, naquele dia azul, sinfonia de sirenes.

E pela caminhada, chegando perto de Georgetown e da ponte que me levaria de volta à minha margem do rio, vejo aquela mesma coluna de fumaça subindo ao ar de um ponto que agora posso identificar como o Pentágono.

Caças da força aérea circulam pelo alto. Engulo seco a minha acrofobia e atravesso a Key Bridge a pé.

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Chego em casa, não sem antes ter parado na loja de conveniência para comprar vinho e cerveja. E encontro o meu amigo G•lberto H•chm•n, velho companheiro de batalhas desde os dias do IUPERJ em 1983, hospedado em Washington por ocasião do congresso anual da LASA, que abre a porta de casa anunciando que a 2ª Torre já caiu e que tinha um quarto avião que caiu no mato na Pennsylvania.

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E a beleza da manhã daquela terça, na qual eu entrava apenas com memórias da queda da Moneda em 1973, virava outra coisa.

Algo irreconhecível, espetacularmente brutal, emudecedor.

2 Comments:

  • CJ todos somos e fazemos história...acontecimentos assim vêm nos colocar diante do grande mistério da vida: "Existirmos,a que será que se destina?".Vc já conseguiu a resposta para essa questão?Atualmente, e vc sabe o porquê, tenho feito essa pergunta várias vezes! Vc pode me responder,meu amigo oculto?

    By Anonymous Anônimo, at 10/9/06 18:09  

  • Pois é, Balla, aquela terça-feira marcou nossas vidas.

    Acho que escrevi isso no blog, não estou certo, mas eu preciso voltar a Nova York pra ver se sinto a dimensão da coisa olhando o vazio.

    O diabo é que não voltarei antes que comecem as obras do novo complexo.

    Vida que segue.

    Curioso, La Moneda, a morte de Allende, a subida de Pinochet marcaram profundamente minha vida.

    Descubro hoje que marcaram menos que o 9/11.

    Emerson
    www.umolharcronico.blogspot.com

    By Anonymous Anônimo, at 13/9/06 16:16  

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