Notas Avulsas

sábado, junho 03, 2006

E eu nem sabia quem era Nelson Rodrgues.

Era um coquetel aromático de mijo, cerveja, suor, cigarro, pólvora e pó de arroz. O cheiro do pó de arroz era o último e o primeiro a passar assim que a poeira assentasse.. E era quase o mesmo cheiro que tinha nos quartos de empregada lá em casa—subtraindo o Leite de Rosas—que eu me lembrava dos domingos quando elas tinham folga e eu me aventurava a invadir aquele pedaço lá atrás do apartamento onde elas trabalhavam, dormiam, viviam. Era a perfumaria barata, popular, adocicada que eu reconhecia daquela outra parte da casa alheia a mim onde eu vivia todo dia que pontuava a entrada do meu time em campo pela primeira vez quando eu, de estalo, percebi que também pertencia de alguma maneira àquele momento apoteótico da entrada daquele time com o uniforme branco subindo da saída de um túnel num campo verde. E ainda que soubesse o que era cheiro de cigarro—Tia Enaura e Dom Gerardo do mosteiro fumavam Lucky Strike, ou Continental ou Hollywood sem filtro sem parar cada vez que visitavam a mamãe—eu não sabia que mijo, cerveja e suor também tivessem cheiro. Nem que bateria nenhuma fizesse a barriga vibrar daquele jeito, mesmo sabendo que os outros times fossem melhores do que aquele que eu acabava de descobrir e confirmar como o meu.