Notas Avulsas

sábado, dezembro 23, 2006

New York, ca 1939...

Meu amigo Norman B contou essa:

Era lá por volta de 1939, 1940, em N. Iorque.

Norman, um desses jóvens (majoritariamente judeus naquela época) que entraram no tal colégio de aplicação para a universidade no sistema escolar público em New York.

A Townshend-Harris.

Ocupava 4 andares de um prédio ao lado ga Gramercy Park em Manhattan. E os professores, pelo menos os mais jóvens, eram daquele tipo de irlandês católico tendente à esquerda. (Um deles reaparecera depois do combate na Espanha, mas isso é outra estória.)

Pois bem, a Townshend-Harris tinha seu time de basquete (cujo craque tinha 1m78 de altura) e certo dia foram jogar contra os arqui-rivais da Bronx Science (outro High School público e exclusivo; Peter Stuyvesant seria o terceiro arqui-rival, mas não entra nessa estória).

Então o time de basquete da Townshend-Harris sai, naquela tarde, de metrô para o embate com a famigerada Bronx Science.

Na saída do metrô sai o time. O esquadrão inteiro.

Eis que o motorista de taxi, velho judeu estacionado no ponto, vê aquele movimento todo e pergunta:

"Aí, meninos, tão indo pra onde?"

E o Norman:

"A gente vai jogar contra o Bronx Science."

E o chofer de praça:

"A é? Só se for xadrêz?"

Escandinávia

E o sol de dezembro neste inverno, o ouro do sol da luz que resta, e o azul pálido do céu contra as árvores faz tudo parecer a bandeira da Suécia, país que nunca visitei.

Estive ao lado, Dinamarca, anos atrás.

E o melhor momento na Escandinávia (até agora) foi em Kobnhavn (Copenhague pra vocês) quando, após dias de viagem e visitação naquela terra de vikingues, entrei num café no centro, pedi um espresso, e ao levantar os olhos dos meus trocados de kroner pra pagar a despesa, deparo com o sorriso mais maravilhoso, reluzente, convidativo, da morena atrás do balcão.

Engoli em seco.

Sorri de volta.

E peguei meu cafezinho e aquele da minha acompanhante e rodei de volta a nossa mesa.

E os anos passaram, o mundo deu volta, e eu ainda me pergunto: quem era aqela morena atrás do balcão do café em Copenhague, e de onde vinha a alma que ela tinha pra dar aquele sorriso que ela me deu?

Rápida e rasteira

P: Por que os escocêses vestem o saiote?
R: Porque o fecheclair assustava as ovelhas.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Doodle


Meu ideal de personalidade canina foi formado pelo Doodle, vulgo "Dudu," o beagle de raça e de estirpe caçadora que juntou-se a nós quando eu tinha 11 anos.

Doodle, de frágil e doente na infância (a mudança das pradarias da Virginia às de Copacabana provocou nele certo cataclisma estomacal) firmou-se forte e fiel na adolescência. Na dele e na minha.

Não gostava de explosão, detonação de qualquer espécie, raro para um cão de caça. Mas ao invés de se acovardar com aquilo (morteiro comemorando gol do Flamengo, a conquista da Copa de '70, o vizinho dando tiro na mulher) ele ficava putíssimo nas calças, corria na direção da coisa, e abria os pulmões em cheio.

Não era propriamente um latido. Como Beagle, ele tinha certo tipo de voz. Mais uma chamada do que um latido. Lancinente como uma sirene em meio à noite pacífica. No parapeito da janela de frente do apê, alerta como um monomaníaco para qualquer alteração suspeita naquilo que ele via, era uma chamada que se repetia amiude, para o terror dos vizinhos, dos entrepassantes naquela Ipanema de seus primeiros anos.

Doodle era o baixinho invocado. Não era agressivo, mas ai de quem ou de que provocasse seu desagrado. Tinha a musculatura forte, rija, dos Beagles de caça, seu faro desesperadamente arguto, a ponto de rosnar com claros prenúncios de agressividade possível a qualquer pizza chegante em casa com meia molécula de orégano, que ele odeiava.

Tinha o peito largo, sólido, e um certo arqueio na disposição das pernas dianteiras -- em close frontal poderia ter sido um Garrincha -- que o livrava da obrigação de ser show-dog.

E, como viríamos a descobrir anos mais tarde, não topava desaforo.

Doodle, como diriam os inglêses, would punch above his weight: espevitado e marrento com outros machos da espécie, ele não fugia da luta.

Certa tarde, anos depois, quando ele já morava nos suburbios de Washington, entrou em combate com o pastor alemão amigão dele que morava ao lado -- o Odin -- e levou a pior: a mandíbula demolida, sua vida por um fio, e eu -- enquanto isso -- lendo FHC e outros na Library of Congress naquela tarde e pegando o ônibus de volta pra casa naquela tarde de verão com a minha irmã dizendo que tinha péssimas novas e que o Dudu provavelmente tava mesmo frito.

(Nota Bibliográfica: Ok, não tenho certeza se eu, naquele dia, teria lido ou FHC, ou Octavio Ianni, ou Paulo Cesar Pinheiro, ou Emília Viotti da Costa -- aquela mulher insuportável e brilhante e absolutamente imprópria para lecionar graduandos em Yale como eu, porque era doida, ressentida, e marrenta--ou talvez até José Honório Rodrigues, que era apenas chatinho... mas juro que meu verão americano de 1980 fora mais ou menos isso...)

Era mais uma dor que se instalava no meu coração.

Mas o Doodle, fiel a minha preferência que os queridos afinal sobrevivam, afinal sobreviveu.

Anos depois, depois de Yale, de Nova Iorque, da Library of Congress, depois do Haiti do Baby Doc, chego do Galeão numa manhã de julho de 82, a guerra das Malvinas recém resolvida, o gol do Falcão contra a URSS recém marcado e chego sozinho no apê na Lagoa do papai, vazio naquela manhã de dia de semana com todos no trabalho, na escola, na feira, no manicômio, sei lá. E eis que o porteiro destranca a porta, e eu descarrego as malas, e -- quantos segundos foram? -- o alvoroço acorda o Doodle, já véinho e sonolento, veterano de 4 Copas, que vem ver o que rola e que de longe me reconhece e que...

Não conto, leitores, leitoras, do desfecho da cena porque nunca houve momento mais puro de amor, reconhecimento, alegria entre duas criaturas de pelo curto e sangue quente como aquele que houve naquele manhã, sem nenhuma testemunha hoje em dia capaz de escrever como de fato correra aquele re-encontro.

E ainda não sei a quem faltaram as palavras.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Estupidamente gelada

(Tass, BBC)

Vejam só:

Tropas russas recuperaram 10 toneladas de cerveja imersas sob gelo Siberiano após uma semana de empenho em ação resgate.

O caminhão que transportava a cerveja naufragou, por assim dizer, ao cruzar o Rio Irtish, cerca de 2.200 kms ao leste de Moscou, na região de Omsk.

O motorista conseguiu saltar a tempo do veículo, antes que o gelo cedesse, tragando o caminhão e sua carga.

Trabalhando em temperaturas de ate 27 graus abaixo de 0, 6 mergulhadores, 10 homens equipados com serras elétricas e 1 tanque de guerra para a puxação pesada, trouxeram a carga à tona.

O caminhão ficou.

Desceu redondo...

Bárbaro Barbera

Já fui gato, rato, resto de esparadrapo
neto inquieto da Vovó
que me levava nas matinês do Metro Copacabana
ou até no Ricamar.


E depois, todo o espancamento, castigo, minha fuga
Meu suposto amadurecimento
e o reconhecimento tardio que o Zé Barbera
era tão nobre como qualquer Barbera di Asti ou di Alba

de nobre casta vegetal ou melhor
nos meus dias sábios de hoje,
de nulo valor
retroativo.

** **

Mas nunca fui nada disso:
Minhas cinzas não enterro com ninguém,
recusa humilde e não esnobe,

Pois não quero que ninguém me enterre
entre as complicações do último 16 mm
do último Tom & Jerry.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Vaticano FC

Queria muito ter inventado isso, mas nem assim a Serie A deixa de nos surpreender. Afinal, se deu na BBC só pode ser verdade...