Notas Avulsas

sábado, novembro 04, 2006


















Vosso correspondente, dezembro 2002. Nas escadarias do exorcista. Georgetown. Washington, DC. Nesta cidade tão capital.

Foto: © 2002, JJL Duggan.










Foto: © 2006, JJL Duggan

Essa foi clicada por um amigo durante o jogo Brasil x Croácia, junho de 2006, momentos antes do gol decisivo do Kaká.

No Summers Restaurant and Bar, aqui ao lado em Arlington, Virginia.

E como o olhar é retrospectivo, coloco o título no final:

Quem se lembra?

quarta-feira, novembro 01, 2006

Structures of Halloween


Hoje, após o expediente, fui ver um apartamentinho em Adams-Morgan, bairro da muvuca nesta cidade tão capital.

E deu tudo errado. A rua era linda e pertinho do metrô. Cheguei pontualmente às 18h15, conforme o combinado com a Mme S, dona do imóvel. Só que a minha chegada pontual coincidiu com a materialização de uma terceira, atrasada, que marcara visita para as 18h00 em ponto e que surgiu com sua cara gorda e azeda no meio da portaria no momento em que Mme S me apresentava ao seu lindo elevador.

E não é que a Mme S convidou a retardatária (a da cara gorda e azeda) para compartilhar da visita?

"Mme S," pensei,"ça ne se fait pas..."

E chegamos no apartamentinho. Abre-se a porta. Acende-se uma luz.

E visões de uma vida feliz, compacta, eficiente, descortinaram-se ante meus olhos. O piso de madeira. A cozinha com sua geometria correta para piruetas de 180 graus, sem a menor necessidade de maiores movimentos laterais para transpor os trabalhos da bancada aos trabalhos do fogão.

Abro uma janela ou duas para espiar pela escuridão o que há lá fora, se as janelas dão pro norte ou pro sul. Se a vista é devassada ou in. (Vejo a lua lá fora e concluo que dá tudo mesmo é pro sudeste.)

Perfeito. Fecho e abro janelas. Vou ao banheiro constatar a pressão hidráulica. Um breve chuá do chuveiro me convence que não poderia ser melhor.

Estou quase tirando o talão de cheque do bolso e falar pra Madame que é esse mesmo que eu quero quando volto à sala e percebo que Mme S e Miss Cara Gorda e Azeda já estão em adiantada fase de negociação, e que a Mme S já me olha com uma cara de desconfiança tão pronunciada que quase já diz:

--Ô menino, por que é que você está mexendo em tudo aqui dentro?

Só que ela não diz isso. E a Miss CG&A retira-se à cozinha (onde ficaria disfarçada olhando as paredes com a mesma cg&a até o momento que eu me retirasse de todo.)

E eu falo pra Mme S que eu gostei muito mesmo do apartamenteco de merda dela, que eu gostei muito de ter tido a minha visita tão cuidadosamente programada e fielmente cumprida se ter convertido numa perda total de tempo graças ao darwinismo social da Senhora Madame Proprietária em querer combinar a visita de dois competidores pelo mesmo espaço ao mesmo tempo e que, por favor, me dê uma "application" pra eu poder rasgar aquele papel de bosta e limpar o meu cu com aquilo amanhã de manhã, e de onde, por casualidade, por gentileza, a Senhora vem? ("Originally?" perguntou ela--como se eu estivesse a lhe perguntar se passara pernoites no quinto anel de Saturno--"Yes", retruquei."From France," respondeu ela.)

Enquanto isso, a gosmenta Miss CG&A continuava se disfarçando em mexidas inquisitoriais no funcionamento das dobradiças da porta da geladeira, do fogão, do caralho a quatro.

Polidamente me despedi da Mme S. Desci pelo esplêndido elevador, atravessei a esplêndida portaria. E ganhei a rua.

Era noite de Halloween. E eu estava em pleno burburinho da Adams-Morgan, bairro da muvuca nesta cidade tão capital.

Fantasias, disfarces, instalaçoes ambulantes passeavam ao meu redor.

Deparei com uma dupla de argentinas (como vim a saber depois) fantasiadas de polícia.

"Prendam-me," implorei.

Foi então que me encaminhei ao Rumba Café para dar belas dentadas num asado de tira, pagar tudo no cartão, e ver de perto o business que nunca deixou de ser business: a ilimitada capacidade que possui a nossa espécie de manter sempre sua máscara maior: a boa, velha e universalmente reconhecível Cara de Pau.