quinta-feira, outubro 05, 2006
O Clamor
pela publicação do Roteiro do Suicida foi tamanho que o o próprio conselho executivo do Notas exigiu sua publicação.
Protestamos. Eu, Renata, Fabrício.
Mas como é noite de chuva e queríamos chegar em casa antes que nossos apertamentos se inundassem, consentimos.
"Mas tem que colar essa foto aí," protestou Renata, "senão, tchau."
Portanto (e sob protesto):
** **
No dia quando eu quiser morrer
resolvo caminhar pelo Leme
pelas suas ruas tão curtas, tão escuras
que até em dia de feira
para quem vinha a pé
desde o impiedoso Posto Três
em contagem regressiva
ao limite do costão dos pescadores
e pairando nas hortaliças ou pescados
reconheceria outra vez
que tudo era negociável.
No dia quando eu quiser morrer
Vou pensar duas vezes e dobrar a Atlântica no Lido,
Onde a minha tia dizia que outrora começava o Leme
Antes da famigerada Princesa Isabel
E entrar pelo flanco na Viveiros de Castro
E olhar sem pressa pra dentro de todos os apartamentos
De janela aberta no andar térreo
E lembrar do que há de pendurado na parede.
E eu pararia em seguida naquele boteco antes da Prado Junior
Onde certa noite descolei a puta mais doce do mundo
Que me levara a um quarto logo ali na outra esquina
E ficamos horas a fio conversando sobre nada
Antes que ela me levasse ao chuveiro para passar
Um bom sabão e uma bela mudança de assunto.
No dia quando eu quisesse morrer
Acordaria logo cedo após o dia nascer.
Sairia do puteiro na Rodolfo Dantas
E passaria, com um aceno de cabeça, pelo Cervantes
Enquanto um nordestino azul desbotado
de tamanco e rodo ou vassoura
escovasse a pedra portuguesa
com um sabão em pedra
com tanta força e dedicação
que eu trocaria de calçada
pra calçada de lá pra não interferir em seu zelo.
E eu subiria a Prado,
No dia em que eu quisesse morrer,
Olhando o que era o beco,
O Cinema 1,
Ganhando aquela praia de novo
Sem o atropelamento do trânsito
Assassino
De Nossa Senhora de Copacabana
Ou da Atlântica.
Ganhando de novo a areia da praia selvagem
à altura da Taverna do Leme,
ou do Méridien, ou das concessionárias
de automóveis e de putas e de viados
e de turistas babacas
onde desemboca o Túnel Novo.
Passo após passo na euforia suicida
De dentes trincados eu caminharia ao leste
Para entrar mesmo no Leme
--vocês não saberiam onde--
No dia em que eu quisesse morrer
Para ver se a Shirley na Gustavo Sampaio
(e não aquela ora em Brasília
que é muito mais importante)
já estaria aberto e pedir do cearense
um caldo de polvo.
E em seguida entrar na General Ribeiro da Costa
e passear sem hesitação de ponta
a ponta na tarde depois da feira
com o asfalto cheirando a feira feita
e comprar o jornal na banca
Na Anchieta na banca do Paraíba
Que herdou o negócio do filho do italiano
E comprar mais quatro ou cinco matérias de leitura
Só pra esvaziar os bolsos dos trocados
E deixando apenas o necessário para a última da vida,
Já que o resto ainda aceita cartão.
E eu pararia no Fiorentina
No dia em que eu quisesse morrer
Numa mesa lá naquela ponta mais afastada
Do serviço às onze e meia da manhã
E mesmo lá fora pediria um pano de linho branco
Fresco e de vinco afiado ao garçom
Passando uma bela nota – a última da algibeira –
Por pura camaradagem ao distinto recipiente.
E depois, a conta fechada,
cambalearia ao final da praia
E subindo ao costão do Leme
No dia quando quero mesmo morrer
Pensaria mesmo apenas na temperatura da água
Lá embaixo
E da coisa desconfortável e impaciente que deve ser
Suicidar-se em qualquer cidade,
Qualquer mar.
E que eu ainda não tenho isso em mim
Feliz ou infelizmente
Naquele dia quando eu queria
apenas
me matar.
Guia Michelin?
E com cruzes ou estrelas?
Entre trabalho, novela e futebol pouca vida vem sobrando às Notas Avulsas.
Depois da surra que o Flu levou ontem do Fla pensei em publicar um texto recente sobre um belo roteiro turístico para suicidas em potencial.
Nada de Leaving Las Vegas; apenas um roteiro pedestre que começa no Lido e termina no costão da Pedra do Leme. De utilidade também aos não-suícidas. (É só dar meia-volta ao final do roteiro.)
Mas desisti. Achei que precisava ampliar. E atualizar as referências gastronômicas. E talvez até incluir um roteiro alternativo, tipo Praça Antero de Quental ao Costão do Leblon.
Ou ainda um terceiro, da Nossa Senhora da Paz ao Arpoador.
E assim por diante.
Para os preguiçosos...
E com cruzes ou estrelas?
Entre trabalho, novela e futebol pouca vida vem sobrando às Notas Avulsas.
Depois da surra que o Flu levou ontem do Fla pensei em publicar um texto recente sobre um belo roteiro turístico para suicidas em potencial.
Nada de Leaving Las Vegas; apenas um roteiro pedestre que começa no Lido e termina no costão da Pedra do Leme. De utilidade também aos não-suícidas. (É só dar meia-volta ao final do roteiro.)
Mas desisti. Achei que precisava ampliar. E atualizar as referências gastronômicas. E talvez até incluir um roteiro alternativo, tipo Praça Antero de Quental ao Costão do Leblon.
Ou ainda um terceiro, da Nossa Senhora da Paz ao Arpoador.
E assim por diante.
Para os preguiçosos...
terça-feira, outubro 03, 2006
chiste de chicos
Pois hoje o Paulo Moinho, meu destemido chefão, me levou pra almoçar no japa do pedaço. Junto, o fiel escudeiro José Edu. E os dois ficaram o tempo todo falando aquele português mal-resolvido originário de Castilha que alguns chamam de "espanhol." (P é de Madri; Zé Edu, de Caracas). Melhor pra mim: comi compenetradamente o meu sushizinho, a minha sopinha de shumai -- aquele raviolão japonês com recheio de siri com camarão -- e fiquei na minha até concluir os trabalhos.
Eis que o Paulão vira pra mim e me pergunta se eu conheço aquela da Guerra das Malvinas:
-- Você conhece aquela da Guerra das Malvinas?
-- Ainda não...
-- Seguinte: perguntaram pro argentino se era ou não era verdade que a Argentina perdera a Guerra das Malvinas...
-- Sei. E aí?
-- E o argentino: ¿como que perdimos, ché? Fuímos vices...
Pois hoje o Paulo Moinho, meu destemido chefão, me levou pra almoçar no japa do pedaço. Junto, o fiel escudeiro José Edu. E os dois ficaram o tempo todo falando aquele português mal-resolvido originário de Castilha que alguns chamam de "espanhol." (P é de Madri; Zé Edu, de Caracas). Melhor pra mim: comi compenetradamente o meu sushizinho, a minha sopinha de shumai -- aquele raviolão japonês com recheio de siri com camarão -- e fiquei na minha até concluir os trabalhos.
Eis que o Paulão vira pra mim e me pergunta se eu conheço aquela da Guerra das Malvinas:
-- Você conhece aquela da Guerra das Malvinas?
-- Ainda não...
-- Seguinte: perguntaram pro argentino se era ou não era verdade que a Argentina perdera a Guerra das Malvinas...
-- Sei. E aí?
-- E o argentino: ¿como que perdimos, ché? Fuímos vices...