Notas Avulsas

quinta-feira, setembro 28, 2006



Sorriam.

Vocês não estão na Barra.

Apenas na coleção atípica da ATYPYK.

terça-feira, setembro 26, 2006


Serviço Atualizado

Já era tempo.

Com tantos sites e serviços dedicados a encontros, namoros, pegadas, surge na Alemanhã nova modalidade do esporte: A Separação.

Meine Damen und Herren: ihren problemas se acabaram.

Pois o Bernd Dressler agora se dispõe a transmitir aquela mensagem especial para aquela pessoa especial: Fim de Papo.

Por 20 euros a agência do Dressler comunica o final da festa por telefone. Por 50 euros, vai um representante em carne e osso comunicar as vias de fato.

E o cliente tem a opção da mensagem "simpática" ou "direta".

Herr Dressler, por sinal, é ex-gerente em firma de seguro.

Deve entender tudo de risco.

segunda-feira, setembro 25, 2006


Segunda Sem Assunto

Sábado e domingo também.

Os leitores acostumados a este espaço pouco haverão de estranhar. Pois, de fato, a semana inteira no Notas Avulsas é sempre assim, sempre a mesma luta da matéria contra a anti-matéria quando -- na síntese -- ambos se anulam e se superam em nova modalidade de nada dizer.

--Nem sempre, chefe, disse a Renata, estagiária da redação, ao começarmos a reunião de segunda em torno da pauta da semana.

--Como assim? Desenvolva, por favor.

--Essa tal "nova modalidade" semana passada foi sobretudo um monte de posts nostálgicos sobre novelas que ninguém nunca viu, ou que mal se lembra, ou que pouco interessam e que menos ainda vêm ao caso.

--Mas veja bem, respondi, era uma busca romântica e fútil pela recuperação do efêmero. Você não viu como haviam leitoras indignadas com o fato da Tupi ter gravado por cima dos VTs que armazenavam "Beto Rockefeller," e como o registro daquilo ficou perdido pra sempre? É o feeling que importa, né não?

--Foda-se o feeling, chefe. A TV Tupi não existe há vinte anos.

--Sei. Assim como há vinte anos você também não existia...

--Mas não é isso, chefe. Fala pra ele Fabrício.

(Fabricio, aquele foca do Notas, até então nos observava com olhar de crescente desconforto).

--Seguinte, patrão: fim-de-semana cheio de novidades. Bill Clinton soltou o verbo no Chris Wallace da Fox News...

--Já vi. Já li. Na AP, UPI, Reuters, BBC, NYTimes, Washington Post, Guardian...

--E aquele partido neo-nazista na Alemanha ganhou espaço nas eleições estaduais em Mecklenburg-Pomerânia...

--Sei. Problemão. Te mando agora pro Báltico?

--Calma, chefe, tem mais.

--Mais? Prefiro menos...

Quase me antecipei ao entreolhar cúmplice, fúnebre, entre Renata e Fabrício. Quando viravam pra mim já não trocavam mais qualquer expressão.

Frios. Esfinges sem mistério milenar. Rostos -- como qualquer outro par de rostos -- apenas cravados por ora em pedra crua. Restos talhados de britadeira com a pressa de anteontem, detritos na calçada.

--Mas talvez seja mais grave do que você imaginava, chefe.

Engoli seco. Boa coisa a verdade não podia ser.

--Diga.

--Temos ainda a concorrência da Madame X, que anunciou que ia participar numa dessas surubas de inferninho em Copa no fim de semana com um tal de Dog Walker...

--Bombando nos números, chefe, a Madame X, disse a estágiaria Renata.

--Porra! Esmurrei a mesa, pela primeira vez, em todas as reuniões editoriais do Notas. Cadê o nosso olheiro nas surubas de Copa?

--Sorry, chefe, já rolou. Agora é tarde demais.

--E o Dog Walker? De quem se trata? perguntei, tentando me recompor.

--Não sabemos ainda com toda a certeza, disse o foca Fabrício, mas a pista que temos leva a supor que seja um tal de Max.

--Max? O Dog Walker ou o Dog? Ou o Walker? Max Walker? Max Weber?

--Calma, chefe. Não sabemos ainda de nada. Só sei que recebemos hoje de manhã essa envelope de quem dizia ele conter imagens comprometedoras de um cachorro pertencente à Senhora Sua Tia.

Tímido, Fabrício deu a volta à mesa e me apresentou então um envelope selado.

Senhora sua tia... Imagens comprometedoras... Que porra era essa?

Eu devia ter me resguardado, porque a Renata, estagiária infatigável do Notas, chegou logo ao meu lado e pôs a mão no meu ombro antes que eu rasgasse aquele selo, devassando a imagem que me chegara em sigilo. Nem tive tempo em pensar de como era gostoso sentir o peso leve e cheiroso da mão da Renata sobre meu ombro. Claro que ela fizera manicure no sábado.

E por dentro da fresta do envelope rasgado encontravam meus dedos um quadrado liso e espêsso de papel pesado, brilhante e fotográfico.

Retirei o objeto.

Olhei. Era uma polaróide do bicho. Seu focinho grisalho. Seu olhar mais tomado de tédio do que eu em tarde de sexta-feira diante de nova exposição de fósseis de bromélias devonianas do pleistoceno.

Inconfundível. Sem dúvidas.

Era o próprio Max.

--É com esse que vamos, bradei, afastando a mão e o braço cheirosos da Renata de meu ombro como quem afasta uma mosca temporã.

--Ué? Por quê? indagou incrédula a Renata estagiária.

--Porque agora, sem temor de duvidas, finalmente temos assunto: le chien de ma tante est sur la table.