Notas Avulsas

sábado, setembro 02, 2006

Até debaixo dágua

Ontem, por causa das chuvas intermináveis do Ernesto, ficamos até o pescoço com águas novas.

Mas água é promessa de vida, quando tomada com consideraçao.


Choveu aqui, choveu em São Paulo. Espero que tenha chovido em todos os lugares onde faltasse chuva.

Dirijam com cuidado e obedeçam à sinalização, quem estiver na estrada.

Para quem ficar em casa, obedeçam à sinalização assim mesmo.

(e o talento da segunda foto é pura MGA, alma gêmea, imersa em líquido Atlãntico na terceira praia de Morro de São Paulo -- mesmo que não morramos de São Paulo -- naquele pedaço de chão abençoado comumente referido como "Bahia".)

sexta-feira, setembro 01, 2006

Ministério do Amor

Feito à Mão e às Pressas (vide "Bebel faz à mão" na barra de navegação à direita) traz hoje em destaque entrevista exclusiva com Marcelo L, discursando sobre o amor não em seu estado "privado" ao estilo do século 19, quando era tudo sussuros, confissões e desencontros, e sim ao sabor do século 21.

Ele que o diga.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Lamartine, hinos, e artefatos afins...

Há anos que isso vinha me chamando a atenção.

E quem não se lembrar de quem foi Lamartine Babo, que escreveu os hinos dos principais clubes de futebol do Rio, por favor que levantem a mão.

América, Botafogo, Flamengo, Fluminense. Do Vasco não tenho certeza (leitores vascaínos que me instruam). Mas desconfio que sim.

E o “ponto” é o seguinte: todos os hinos do Lamartine são musicados em tom maior, marchinhas triunfais com letras positivas, carregadas com a alegria da vitória e sempre escalonadas em dimensão tocantemente pessoal, sem desbordarem ou desdobrarem em triunfalismos agressivos de arrogância imperial.

Menos o do Fluminense, que atinge algo bem aquém do limite do lado de lá.

O tom é menor; o tempo quase de uma marcha fúnebre. E o teor da letra traduz um certo estado de subjeção (ou obstinação) que mais me lembra de bizarrices sado-masoquistas, bondage and domination, (ok: nada contra) do que do esporte unido e forte que a letra ostensivamente propala:

Fascina pela sua disciplina, o Fluminense me domina, eu tenho amor ao Tricolor.

Eu hein?

Agora me digam qual a contradição entre isso e o rodriguiano “bate mais que eu gamo”?

quarta-feira, agosto 30, 2006

Do sublime ao ridículo

Desconfio que quase todos os leitores do Notas sabem (ou desconfiam) que sou torcedor do Fluminense.

Pois hoje à noite no Serra Dourada, ali em Goiania, o Fluminense levou de 3 a 1 do Goiás (parabéns a eles).

Era a segunda partida sob o comando do Antonio Lopes (vulgo Cabeção, vulgo Delegado), sendo ele o quinto (ou sexto) técnico alugado pelas Laranjeiras nesta temporada de 2006. E foi, essa de hoje, a quinta partida que o Fluminense não vence: quatro derrotas e um empate.

Como agravante, a venda de Marcelo -- revelação de Xerém -- tornado fato público nesta quarta, mesmo que 12 horas antes a diretoria do clube anunciava que não havia tal transação em pauta.

Mando, portanto, a emenda à letra do hino do clube. E que me perdôe Lamartine Babo, e a impaciência da leitora por tratar, outra vez, de futebol.

Novo Hino do Fluminense

Sou Tricolor de coração

Vou caindo pra Segunda Divisão:

Indigno pela própria incompetência,

Inadimplência dos cartolas,

Invictos só na enganação.


Fora Horcades cafetão,

Seus asseclas no desmando trapação.

Patetas proxenetas de atletas

Das três cores do dinheiro,

Eu sou é Tricolor.

terça-feira, agosto 29, 2006

Katrina, one year later...

Acho que sou um cara de sorte. Quer dizer, continuo achando que sou um cara de sorte, até que o próximo ônibus me atropele na próxima esquina.

Sejam como for os meandros do azar, os mandos ou desmandos do destino, pelo menos parte dessa auto-imagem fora reconfirmada ano passado, quando vi Nova Orleans engolfada pelas águas do Golfo do México, envolta em cataclisma físico de force majeure, abandonada pelo estado à própria sorte, diante de um par de furacões de ferocidade máxima num espaço mínimo de dias.

Aceito a carga e a pecha de egoismo por falar apenas do meu privilégio sobrevivencial diante do infortúnio dos demais. Mas quem mandou eles morarem (ou morrerem) numa cidade 2 metros àbaixo do nível do mar numa região no meio da faixa dos furacões?

Minha sorte, repito, era de ter visto Nova Orleans quando ela ainda era viva.

No início dos anos 90, quando eu ainda morava em Austin – capital da república do Texas – pelo menos duas vezes por ano eu entrava no carro e dirigia para Washington, DC – capital de outra república vizinha – para visitar uma ou duas irmãs.

Com a experiência adquirida ao longo de cinco ou seis anos ao longo daquelas 26 horas de estrada ininterruptas, aprendi a discernir que o ponto mais interessante entre as duas capitais era exatamente Nova Orleans, uma das poucas cidades nos Estados Unidos que possuia algo que poderíamos chamar de “personalidade.” (Boston, São Francisco e Nova Iorque são outras. Chicago, diriam alguns. Mas nem sempre as tais “personalidades” vêm a ser de agrado.)

Pois a Nova Orleans, pelo menos seu miolo urbano histórico, era um lugar imediatamente reconhecível como “cidade”, assim como seria a Rua do Ouvidor entre a Praça Quinze e a Avenida Cen... (sorry) Rio Branco. Ou a Buenos Aires de San Telmo. Ou a Paris do Marais, a Londres de Covent Garden, a Copenhague ou a Amsterdam daquele núcleo de trânsito pedestre que dimensionava o tamanho de uma cidade numa época anterior ao automóvel, até ao trem.

No Vieux Carré eu me sentia em casa. E mesmo que eu soubesse que a Bourbon Street virava um pandemônio imbecil durante o Mardi Gras, quando hordas de jóvens americanos universitários invadiam aquele espaço pra beber, vomitar e soltar todas as frangas acumuladas ao longo de 300 anos de repressão puritana, na calma modorrenta do verão da Louisiana aquilo ainda me parecia um lugar aprazível, distante tanto da disneyfication dos lugares “interessantes” dos Estados Unidos, como da walmartization da mesmificação de tudo em nome de um comércio acessível ao consumidor dos mais parcos meios.

Havia história, havia romance. Havia mistério. Havia charme. E havia, como não, perigo.

Era mistura de Havana com Paris, ou Veracruz com Las Vegas em noite de blecaute, ou Vila Mimosa com Arco do Telles.

E até nos arredores, no tal Garden District erguido por prósperas elites anglo-irlandesas do século 19 para fugirem da geléia geral do centrão Afro-Franco-Hispano, havia ainda a dignidade arquitetônica vitoriana de uma cidade crescente que acenava respeitosamente aos primórdios do vernáculo do local.

Foi numa dessas escapadas, certa tarde, quase que num bonde chamado Desejo, que fui parar na Tulane University, lá na banda oeste da Garden District.

E foi lá que vi a camiseta mais engenhosa de todas que já vi (descontando a do Pink Freud, mas essa já é outra estória.)

A camiseta dizia isso, sob as armas da Tulane: Liberté, Égalité, Humidité.

** ** **

Há um ano Katrina,

E agora 2.000 mortos

78.000 moradias destruídas

A população nuclear caiu de quase 500.000 a 200.000

E a taxa de suícidio triplicou.

** ** **

O Presidente Arbustinho hoje jurou solenemente e publicamente que o estado, a partir de agora, vai saber responder melhor a situções de emergência.

Um ano depois.

Então tá.

segunda-feira, agosto 28, 2006


Sorry, Raul

Hoje não houve nada que pudesse encobrir a falta mais abjeta de assunto.

Quem não tem óculos escuros usa colírio?

Nestes dias quando entro na contramão do Raul Seixas podem ter certeza, caros leitores do Notas Avulsas, que o dia foi longo. E pontuado cruelmente por ataque alérgicos, espirros e coceiras, vindos não se sabe de onde, em conspiração microparticular e com força maçicamente histamínica para investir o sequestro dos assuntos do dia.

À tarde, na reunião do conselho editorial do NA, sobrava pouco:

--Flu perde de novo?

--Tente outra vez.

--Abertura do US Open tumultuado por chuvas?

--Capim guiné...

--Bombas na Turquia?

--(Atchim!!!) Qual o nosso correspondente mais próximo?

--Eu... (E fulano movia a cadeira um palmo ao leste...)

--Sei. Não. Próximo? (fungando...)

--Bush e Katrina: primeiro aniversário!

--Nova Orleans rebaixada sob o nível do mar? Pode ser... esnife...

--Mas já fizeram isso há um ano, chefe.

--E continuam fazendo. Esqué é é tchim esquece...

--Saúde.

--E Fotos?

--De quem?

--De você mesmo, uai.

(Um dos Focas dos Notas é mineiro.)

--Tô de óculos escuros?

--Não, mas tá de colírio.

--Então roda...