Notas Avulsas

terça-feira, julho 04, 2006

Recriminações à parte, e sem entrar no ponto nevrálgico da psico-patologia nacional, cuja frustração medular é essa teia toda de irresponsabilidade e impunidade de quem manda e desmanda e abusa dos poderes outorgados por nós, os impotentes da república, essa coisa de culpar o jornalismo (ou dele exigir qualquer espécie de retratação ou autocrítica) é mesmo bola fora. Ninguém nos obriga a acreditar que a gente é o melhor do mundo, o maior do mundo. Mas a expectativa de ter acreditado nisso, em qualquer momento, demonstra apenas como somos suscetíveis a tais disturbios na deformação da percepção do real, da facilidade com a qual essas expectativas são produzidas com a complicidade do próprio leitor. No futebol, pelo menos, o inimigo somos nós.

E eu concordo. De todas as derrotas desclassificantes da seleção ao longo dos 36 anos que acompanho Copa do Mundo, essa foi a menos dolorosa de todas. (E a mais aliviante de todas, atrevo-me a dizer). As peças não se encaixavam, e entre o número de peças e os métodos do encaixador havia de se dar uma derrota mais cedo ou mais tarde.

O prenúncio da irreversibilidade da derrota veio cedo no jogo. O que nos restou foi ver a carga daquele fatalismo estampado no rosto de um técnico como que catatônico à margem do campo, desencontrado na primeira substituição, ressabiado ao ponto da imobilidade durante a maior parte do largo pouco tempo que nos restava para fazer o tanto que podia. Parreira hesitou até o último momento, quando já era tarde demais. (Eriksson nunca hesitou: foi sempre imobilista; Pekerman não hesitou, trocou mal e morreu com o Messi no banco.) Pelo menos nós podemos morrer com o Robinho em campo, com Cicinho em campo.

Foi, por tudo que mal chegou a prometer, um fracasso exemplar.