Notas Avulsas

sábado, novembro 18, 2006

Rima Esquecida

A cachola batendo três vezes na luminária

Ao sentar, ao levantar
na pura distração do movimento
é sempre o POK do metal
que bate contra o cocoruto
nesta casa onde ainda sou estranho.

Aprendo, como aquilo também haverá de aprender,
na convivência de espaços cerrados
que pertencem a outras instâncias
e não às minhas, que, fora este discurso,
a rigor não existem.

POK

de novo, o fomento keynesiano
fazendo vibrar a arquitetura deste apartmento
no momento quando saio dele pra comprar aspirina.

**

Meu amor:

voltei agora a pé das compras
caminhando com rimas que já esqueci:
saídas, partidas, devidas no final,
no final a tua vida
ou a minha
que na promiscuidade do meu caminhar
eram coisas cuja diferença
e a importância que se atribui a elas
simplesmente deixaram de existir.

**

Sento e me levanto agora
com o vagar com o qual me disponho
a evitar essa luminária
que bate no coco,
minha cabeça um toco,
resto de organismo, de
quatro patas, pelo, e pouco
mais do que isso

e como louco
batendo a cabeça contra objetos
suspensos no ar que nem sequer premeditei
penso, novamente, apenas em você.

Risotto? Eu?

Essa receita de risotto dois posts abaixo merece certas reparações:

1) quando, da terceira etapa (1: suamento das cebolas bem picadas; 2: introdução do arroz e sua fritura, crua...) se introduz o vinho branco o procedimento é este: deixe o vinho se absorver to-tal-mente nos grãos de arroz.

2) ao começar a quarta etapa (as conchas de caldo, cada uma de sua vez) é bom olhar o relógio: 20 minutos, máximo. E ao fim da etapa caldo, deixe o risotto repousar por alguns minutos antes da quinta etapa, a "mantecatura..."

3) a quinta etapa--a mantecatura--é a melhor de todas: pique umas 100 gramas (máximo) de manteiga SEM SAL e BEM geladinha, outras 100 de Grana Padano ou Parmeggiano e jogue tudo no arroz, mexendo agora com violência e determinação para distrubuir os laticínios sem perdão nem acaso, dissolvendo os sólidos no calor da coisa.

4) quando tudo estiver de cara boa: um minuto, minuto e meio, dois minutos -- quem cozinhar vai saber -- sirva imediatamente.

5) não se preocupem com as sobras. O momento do risotto é mesmo aquele da cremosidade ao sair da panela. E o risotto tem a química garantida: só funciona em porções de, pelo menos, três pessoas. (Li em algum lugar que a preparação de risotto em mini-rações, em porções menores a 100 gms no total, não dá certo porque o arroz ou queima ou então endurece: risotto--um prato elementarmente social.)

6) Com o que sobra você pode sempre reaquecer (mesmo que tenha perdido a cremosidade do risotto) e misturar nele um bom molho ferrugem, as sobras da galinha ao molho pardo, o que sobrou do camarão com o chuchu. Qualquer coisa. Ontem à noite, depois da festa, eu vi que não tinha nem um ovo na geladeira (bolinhos!) e fui logo aquecendo a frigideira com o azeite, aquecendo até que o meu sobrinho me desse netos, e jogando a sobra do arroz na chapa quente, moldando e modelando aquela massa de amido até que eu soubesse que tinha adquirido forma e -- por quê não dizê-lo -- CROCÂNCIA.

Foi apenas uma panquequinha de sobra de risotto, sem o ovo necessário pra dar a liga.

E embora toda essa narrativa possa parecer um comentário críptico sobre o estado do Fluminense, eu garanto pessoalmente que não é não.

Um abraço aos leitores, às minhas belas e queridas leitoras.

E cartas à redação.

Como se eu estivesse em casa

Penso na casa de meu amigo adormecido

e por certo instante

por pouco não teria deixado de pensar

em pouco não.

Penso de novo,

em minha amiga distante,

distante como eu de mim,

essa proposta a mais trágica de todos os tempos,

quando eu não reduzo nem retifico

o número ou frações de sílabas

de batidas ou cacetadas na testa

que levariam uma melodia dessas

ao seu final

em nota de suicidio

ou em bolinho de bacalhau.

El Marmol de tu Piel


* * *

Eu cozinho, querida,

e ao longo da noite

e das temperaturas

acontecem equações

entre o paladar passageiro

do rei

ou da rainha

que fazem de mim um mero servo

estrangeiro

comensal sem a posicão

social ou religiosa que daria a mim o esteio

parcamente real

ao ponto

de me declarar O Cozinheiro

Forasteiro.

* * *

De novo a pecha de ter feito

o risotto perfeito

entre guerras ou chingamentos

ou manobras de quem

só queria mandar.

* * *

No caso,

tudo bem:

tudo vem

a calhar.

segunda-feira, novembro 13, 2006

E o risotto...

E o risotto...

250 gms de arborio, carnaroli ou vialone nano...

1/2 cebola

1/2 copo de vinho branco

400 mil litros de caldo de galinha

2 milhões de miligramas de açafrão

1 naco de manteiga sem sal

1 naco de parmegiano

1 colher de pau

**
NÃO TENTE FAZER ISSO COM ARROZ COMUM

tem mesmo é que ser Arborio ou Carnaroli ou Vialone Nano

Dissolva o açafrão no caldo já aquecido.

Se não tiver não importa.

Mas mantenha um panelão cheio de caldo de galinha (500 - 750 ml) em alta temperatura sem que ferva.

**

Enquanto isso, na boa e confiável frigideira, em fogo médio com bastante azeite vá suando a cebola picada. Agregue o arroz. Aumente o fogo. Quando os grãos virarem opacos, junte meio copo de vinho branco. Sal e pimenta a gosto.

E agora prepare-se: você vai passar pelo menos meia-hora mexendo arroz na panela.

Pegue uma ou duas conchas de caldo, despeje no arroz e mexa o arroz. Observe a absorção do líquido. Dê mais duas conchas. Mexa. Com a colher de pau.

A idéia é de fazer do arroz um mingau.

Continue juntando líquido e mexendo, sem parar, a mistura com a colher de pau durante meia hora, 45 minutos.

Sempre mexendo e sempre juntando mais líquido com a concha.

Quando o ponto do arroz parecer bom, apague o fogo.

Junte a manteiga e o parmesão e misture bem.

E sirva, de imediato.

Receita do mês


Todos sabem que Notas Avulsas é avesso a qualquer normatização.

E receita é norma.

Portanto levem tudo isso com um grão de sal.

Para o risotto: a tua receita favorita de risotto.

Para o acompanhamento, aquele naco de carne no osso, de segunda (eu usei paleta de cordeiro; mas poderia ser de cabra, vitela, boi ou até entrecoxa de frango) e o procedimento é esse:

Para cada .750 - 1 kg de carne
2 cenouras, cortadas
2 aipos, cortados
1 cebola, cortada
x dentes de alho
tomilho
alecrim
1/4 de copo de azeite de oliva
1/2 garrafa de vinho tinto


1) Aquecer o azeite em ampla e espessa frigideira até quase esfumaçar

(Fogo Alto)

2) Introduzir as peças de carne e deixar dourar, girando, com sal e pimenta

3) Retirar a carne já morena da panela

(Abaixar fogo)

4) Colocar os legumes (cebola, aipo, cenoura, dentes de alho) lá dentro. Mexer.

5) Vai mexendo nos legumes. Joque um tanto de sal e de pimenta do reino.

6) Em breve você terâ uma caminha de legumes na base da tua panela.

7) Reponha o naco de carne (frango, bode, fígado de búfala) -- e seus sucos -- em cima dessa caminha

8) Adicione a 1/2 garrafa de vinho tinto, os ramos de alecrim e de tomilho,

9) Aumente o fogo até conseguir uma ebulição

10) Diminua em seguida ao fogo mínimo e tampe a panela.

11) Espere 1 hora e meia e depois prove do caldo. Corrija o sal. Aumente o líquido se for necessário para manter o cozimento, por líquidos, da carne. Retampe por mais meia hora

12) Sirva quando estiver ao ponto, as carnes desfiantes, a textura untuosa, sobre um bom risotto.