Notas Avulsas

sábado, setembro 16, 2006


Obituário

Morreu ontem em Firenze Oriana Fallaci.

Jornalista italiana. Ex-partigiana. Combatente.

Cancer de mama.

Durante anos, até décadas, Oriana era minha ídola. Sobretudo quando li da coragem dela em arrancar o chador no início da entrevista com o aiatiolá Khomeni em 1979,

Depois enveredou pela islamofobia e, como golpe certeiro, os ataques de setembro de 2001 em New York provocaram um surto discursivo dela que de tão extremo convidou até uma ou outra ação penal lá do Piemonte.

Mas é na lembrança dos bons tempos -- e sobretudo pela leitura de Un Uomo, romance-relato da vivência com o amor da vida dela, um grego anarquista porra-louca -- e pela arrancação do chador, que remeto o leitor às pesquisas que poderão ser de interesse.

Ciao, Oriana. Siamo con te.

E sem desculpas.

Sem apologias.

Valedictorium para o C Bechstein, Modell M, número de série 139497

a tua voz não é
nem nunca será
a tua voz
sem a tua voz.

sereias, sirenas:
umas menos outras mais
serenas.

quero perder meu barco,
meu braço,
romper navegação
na aproximação
daquilo que há de você
porventura de mim
em qualquer longitude

onde cantaria a sereia,
a sirene, solene,
em seu lamento
pela âncora
que acabo de jogar.

o movimento e o espaço...





Plexo de cordas no registro médio, e o vácuo após a mudança.

Bechstein, modelo M, saindo pra passear




quinta-feira, setembro 14, 2006

geometria e ritmo...


...do registro grave de um C. Bechstein, Modell M, 1933.

Banquete em homenagem ao retorno dos pródigos
...e das pródigas







Para Cal e Lito. E para os demais.

Rápido, antes que esfrie.


Mientras tanto, en Camagüey...

(essa é pro Hélio...)

O Condenado Cubano é encaminhado ao paredón.

Rejeita a venda nos olhos porque é cabra macho e quer encarar o chumbo de frente.

O pelotão de fuzilamento, saído há pouco da caserna, formado e disposto.

E na voz de comando do oficial se ouve:

--Pelotão, Preparar...

Fuzis sonolentos dos seis do pelotão machucam o silêncio do dia clareante.

--Pelotão, Apontar

E vão lá os recrutas sedentos da mira do sangue...



Eis que nesse momento brada o condenado:

--Que Muera Fidel Castro Ruiz!


E o Tenente, ao pelotão:

--Para Tudo.


E não é que ele para tudo.

O Tenente gira e dá dez passos pra chegar ao pé do ouvido do condenado.

Tomado de piedade, confidencia:

--Oye, chico, no compliques tu situación.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Para os MacManíacos

Foi hoje que o Skype finalmente lançou a atualização Beta (2.0.0.2) de seu consagrado software de Voz sobre IP em vertente Mac OS X. Agora com capacidade para vídeo, inclusive "suporte" (arre!) para o iSight. Penteiem as melenas, escovem o sorriso, aprimorem a maquiagem, instalem o Beta do Skype e liguem pros amigos.

Claro, ainda é Beta. Mas já testei e rodou legal.

terça-feira, setembro 12, 2006

Meanwhile, in Oz

A BBC informa que já foram encontradas mais de dez arraias mortas, mutiladas, no litoral do estado de Queensland ao longo dos últimos dias.

Suspeita-se que o piscicídio tenha por motivo a sede de vingança pela morte de Steve Irwin, o "Caçador de Crocodilos", noticiado nesta coluna pelo mundo à fora semana passada.

E diziam que os "Strines" têm senso de humor. Alguns, aparentemente, esqueceram o deles em casa.

onde qualquer semelhança não é coincidência...

Dick Dastardly (Dick Vigarista, para os leigos) e Muttley. Mas quem pensou em Kia Joorabchian e Carlito Tevez não errou por muito...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Plástica ao alcance de todos

A idéia é da agência DDB Canada para uma clínica em Toronto.

Sem lágrimas.

domingo, setembro 10, 2006

Amanhã já foi outro dia

Amanhã será dia 11 de setembro de 2006: quinto aniversário dos ataques que vieram em manhã de céu azul.

Aqui em Washington, e suponho que em New York seja ainda mais agudo, amanhã não teremos trégua do noticiário ou do comentarismo comemorativo, por assim dizer.

Naquela segunda semana de setembro de 2001 eu já morava no mesmo lugar onde ainda moro hoje. Em Arlington, Virginia, do outro lado do Potomac do distrito federal. A cinco minutos sem trânsito da Casa Branca, cinco sem trânsito do Pentágono. E ao lado do Arlington National Cemetery, onde estão enterrados centenas de milhares de anônimos, alguns desconhecidos, JFK, e meu avô e minha avó, veteranos da 1ª e 2ª guerra mundial.

Pois naquela 3ª feira em setembro peguei um táxi daqui de casa pro escritório e reparava como a chuva da noite anterior limpara de todo o ar. Um céu azul profundo, um dia de temperatura e humidade reduzidas. Céu de Brigadeiro, naquela terça. Ou, como dizem os pilôtos por aqui, Extreme Blue.

Ao chegar no meu cubículo e ligar o computador chega o diretor da minha área, loquaz, alarmista e repetitivo como sempre, porém dessa vez conciso:

“Um bimotor colidiu com um dos Twin Towers ainda agora.”

E eu “calma, não há de ser nada.”

Ligo a BBC World e vejo o que julgava ser a animação de uma aeronave penetrando uma das torres, a outra já em chamas.

Not an animation.

E em seguida vejo uma coluna de fumaça em outra tomada das câmeras saíndo, subindo do Pentágono. Logo: um terceiro míssil.

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Nosso escritório fica a três ou quarto quarteirões do Capitólio. Fomos disepensados do serviço. Voltei pra casa à pé, as calçadas de Washington apinhadas de gente. O asfalto um enlace imóvil de metal, gasolina, motoristas solitários e uma ou outra eventual buzina. O ar, naquele dia azul, sinfonia de sirenes.

E pela caminhada, chegando perto de Georgetown e da ponte que me levaria de volta à minha margem do rio, vejo aquela mesma coluna de fumaça subindo ao ar de um ponto que agora posso identificar como o Pentágono.

Caças da força aérea circulam pelo alto. Engulo seco a minha acrofobia e atravesso a Key Bridge a pé.

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Chego em casa, não sem antes ter parado na loja de conveniência para comprar vinho e cerveja. E encontro o meu amigo G•lberto H•chm•n, velho companheiro de batalhas desde os dias do IUPERJ em 1983, hospedado em Washington por ocasião do congresso anual da LASA, que abre a porta de casa anunciando que a 2ª Torre já caiu e que tinha um quarto avião que caiu no mato na Pennsylvania.

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E a beleza da manhã daquela terça, na qual eu entrava apenas com memórias da queda da Moneda em 1973, virava outra coisa.

Algo irreconhecível, espetacularmente brutal, emudecedor.