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Uma proposta nada modesta
Como boa parte do público leitor pelo mundo afora, andei intrigado com o destino da ilha após a morte de Fidel. (Nem um ditador com poderes vitalícios e absolutos pode se outorgar, por mais que queira, a imortalidade biológica.)
Que Fidel tenha dedicado certa parcela de seus instintos politicos à destruição sumária de qualquer um que pretendesse alcançar seu trono, ou ameaçar sua legitimidade, não chega a ser desconhecido.
Huber Matos, companheiro de armas, sobreviveu ainda em 1959 por favor ou indulgência.
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E Fidel e Raul (eles mesmos) condenaram o mais ambicioso pretendente entre seus generais, Arnaldo Ochoa -- o "gorbacheviano" -- ao paredão em 1989.
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Pouco me espanta (por mais que me espante) que o absolutismo fidelista tenha pensado tão pouco nas regras de sucessão. Há algum leitor que sabe de antemão quem é Ricardo Alarcón? (Resposta: Presidente da assembléia nacional).
Há algum leitor que, ao olhar qualquer fotografia do irmão caçula, Raul, não pense que o irmão mais velho tenha tido toda a razão do mundo em não tornar público ou explícito qualquer mecanismo de sucessão dinástica que lhe conferisse o poder?
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Dizem, não injustamente, que Fidel não larga o osso. (Bem, a Betty Windsor também não larga o osso.) E durante quase 50 anos vem induzindo distorções diasporais (existe exemplo mais claro do que o Cuban-Americans na Flórida?) tão mais agudas pela própria proibição de trânsito humano e geográfico de quem quiser entrar na ilha e, sobretudo, de quem quiser sair dela.
Distorce, sobretudo, a attitude de quem vive ao lado: Wayne Smith, chargé d’affaires do escritório Americano em Havana nos anos 80 e 90, certa vez disse que Cuba, em relação aos Estados Unidos, tinha o mesmo efeito que a lua cheia nos lobishomens.
E isso sem entrar em detalhes chatos (que felizmente desconheço) do mundinho da cabeça dos exilados cubanos que passaram a vida inteira esperando o desaparecimento de Fidel, suas veleidades de poder igualmente anti-democráticas, seu massivo ressentimento nacional, suas ambições certamente fesceninas de "ajustes" sociais na volta...
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Portanto, lanço minha proposta nada modesta:
Que Cuba desde já retraia sua declaração de independência do império Espanhol.
Que declarem que 1898 foi um momento absurdo e lamentável quando, no calor da coisa, não havia a menor chance de tomarem decisões sensatas. Que 50 anos de império informal Americano e mais 50 anos de rejeição aos gringos também não deu tão certo assim, e que agora – antes da gente ser invadida por esses loucos ressentidos – queremos voltar à proteção da Madre Pátria.
Espanha, que já é um dos maiores investidores na infra cubana, conhece bem o que é a experiência histórica de como se sai de xyz anos de ditadura e como se re-estabelece um estado de direito.
Nada mais simples, não?