Notas Avulsas

sábado, agosto 05, 2006


Uma proposta nada modesta

Como boa parte do público leitor pelo mundo afora, andei intrigado com o destino da ilha após a morte de Fidel. (Nem um ditador com poderes vitalícios e absolutos pode se outorgar, por mais que queira, a imortalidade biológica.)

Que Fidel tenha dedicado certa parcela de seus instintos politicos à destruição sumária de qualquer um que pretendesse alcançar seu trono, ou ameaçar sua legitimidade, não chega a ser desconhecido.

Huber Matos, companheiro de armas, sobreviveu ainda em 1959 por favor ou indulgência.

O próprio Guevara, que votara pelo fuzilamento de Huber por “traição” (ok, el Ché era argentino, tudo bem…) foi enviado posteriormente em missões suicídas ao Congo e depois à Bolívia.

E Fidel e Raul (eles mesmos) condenaram o mais ambicioso pretendente entre seus generais, Arnaldo Ochoa -- o "gorbacheviano" -- ao paredão em 1989.

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Pouco me espanta (por mais que me espante) que o absolutismo fidelista tenha pensado tão pouco nas regras de sucessão. Há algum leitor que sabe de antemão quem é Ricardo Alarcón? (Resposta: Presidente da assembléia nacional).

Há algum leitor que, ao olhar qualquer fotografia do irmão caçula, Raul, não pense que o irmão mais velho tenha tido toda a razão do mundo em não tornar público ou explícito qualquer mecanismo de sucessão dinástica que lhe conferisse o poder?



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Dizem, não injustamente, que Fidel não larga o osso. (Bem, a Betty Windsor também não larga o osso.) E durante quase 50 anos vem induzindo distorções diasporais (existe exemplo mais claro do que o Cuban-Americans na Flórida?) tão mais agudas pela própria proibição de trânsito humano e geográfico de quem quiser entrar na ilha e, sobretudo, de quem quiser sair dela.

Distorce, sobretudo, a attitude de quem vive ao lado: Wayne Smith, chargé d’affaires do escritório Americano em Havana nos anos 80 e 90, certa vez disse que Cuba, em relação aos Estados Unidos, tinha o mesmo efeito que a lua cheia nos lobishomens.

E isso sem entrar em detalhes chatos (que felizmente desconheço) do mundinho da cabeça dos exilados cubanos que passaram a vida inteira esperando o desaparecimento de Fidel, suas veleidades de poder igualmente anti-democráticas, seu massivo ressentimento nacional, suas ambições certamente fesceninas de "ajustes" sociais na volta...

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Portanto, lanço minha proposta nada modesta:

Que Cuba desde já retraia sua declaração de independência do império Espanhol.

Que declarem que 1898 foi um momento absurdo e lamentável quando, no calor da coisa, não havia a menor chance de tomarem decisões sensatas. Que 50 anos de império informal Americano e mais 50 anos de rejeição aos gringos também não deu tão certo assim, e que agora – antes da gente ser invadida por esses loucos ressentidos – queremos voltar à proteção da Madre Pátria.

Espanha, que já é um dos maiores investidores na infra cubana, conhece bem o que é a experiência histórica de como se sai de xyz anos de ditadura e como se re-estabelece um estado de direito.

Nada mais simples, não?


Hoje tenho apenas uma foto que transmite paisagem, mas que não chega a ser mapa pra ilustrar como se chega ao Bira, lá em Guaratiba, logo hoje que é a véspera da véspera da partida da Patrícia.

Que os 3 blogueiros leitores dessa coisa (será tudo isso?) me acudam.

Nem sei se o Bira ainda existe.

Mas pra quem provou do pastel de bobó de camarão, da moqueca de cação, e pra quem viu a vista lá do alto da Restinga de Marambaia ao oeste -- zona interditada para nós, meros civís -- já é algo.

Do alto pergunto.

Daqui mesmo pergunto.

sexta-feira, agosto 04, 2006




Jazz in the Scupture Garden again

e sobrevivemos, again

Semana estafante. Tantos dias de calor acachapante que nem sei mais quantos dias foram. Mortos, aqui e acolá, na onda desse calor.

Enquanto isso, no Líbano... Enquanto isso, em Cuba... Enquanto isso em Miami.

E enquanto isso, aqui mesmo. Só que nesse lugar que chamo de "aqui mesmo" não houve mesmo nada de novo. Tudo o mesmo outra vez.

Até a repetição do programa de sexta de verão comprova isso.

Portanto, por que não lançar a foto da Patrícia de Perfil (tecladista de estirpe) lá no alto do post e colar aqui embaixo o Panorama da bacia do Sculpture Garden com a galera toda anônima em vista ?



Farofeitor Filmes: Fuga em Montevecchio

Hoje, diante da minha mais absoluta falta de assunto, resolvi postar um vídeo que rodei há algum tempo atrás, e que dedico aos que sofram da mais absoluta falta do que fazer.

...lecteur, mon semblable, mon frère...

quinta-feira, agosto 03, 2006


Morro de Sao Paulo, BA

Foto tirada a esmo na Terceira Segunda Praia.

Perdão. Foi mesmo na Terceira Praia.

E foi o meu irmãozinho que me lembrou: "putz, eu achava que bosta era de grátis"

No Segundo Post da Noite

No segundo post da noite (quando não na primeira) tento pelo menos citar pelo menos uma vez o meu fiel e gregário leitor Lito.

Só que o Lito parece ter uma aversão pela fotografia. A duras penas no primeiro encontro do Jogo Aberto (acho que foi na Pizzaria Guanabara) ele participou através de uma carteira de Sócio do Botafogo de Futebol e Regatas.

That's the sort of friends I have.

O que eu gosto do Lito (e leio o lito desde quando ele ainda era pílulasdolito) é seu destemor e sua desenvoltura.

Até quando ele não dizia nada, quando seu silêncio falava mais alto.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Canícula

A palavra até que é bonitinha: "cãozinho." Mas quando a Estrela-Cão entra em conjunção com o sol nesta época do ano, o hemisfério norte vira uma banho turco.

Ao longo das últimas 48 horas, Washington parece ter-se posicionado um pouco mais perto do inferno. De dia as temperaturas alcançam 37, 38 graus. Isso, somado à humidade relativa do ar, produz uma sensação térmica de 42, 43. Ainda não vi nenhum pássaro cair duro em pleno vôo. Mas pra que isso aconteça é só uma questão de tempo.

E a cor do céu? Descendo a ladeira de volta pra casa do metrô às seis da tarde o que eu vi era antes uma síndrome cromática do que uma cor propriamente dita. Uma mistura de azul com marrom, coisa que entendo ser impossível para o leitor visualizar. Só vendo para acreditar.

Por essas e outras razões, os meus momentos vagos hoje foram ocupados por veleidades de fuga, nem que fossem para passar o fim de semana fora dessa fornalha.

Mas entre Quebec (Terre de mes Aïeuls) e Islândia (que não tem absolutamente nada a ver comigo) só vi manchetes québequoises descrevendo a onda de calor que também investe aquela pequena e charmosa capital às margens do S Lourenço e os preços de passagem proibitivos da Loftleidir de Baltimore-Washington para Keflavik, de $2.000,00 USD pra cima.

Menos mal. Talvez. Já que não consigo mais divorciar minha imagem da Islândia de tudo que eu suponho ser a experiência de se comer o acepipe tradicional deles, o "Hákarl", que nada mais é do que a carne apodrecida curtida de um tubarão groenlandês cujo preparo tem como objetivo final produzir um gosto e um aroma de amoníaco tão intensamente repulsivos que a pessoa tem que segurar o nariz pra conseguir ingerir aquilo. Ah. E acompanhar aquilo com doses diretas de Brennevin, um tipo de aguardente islandês que os próprios islandeses chamam de "svarti daudi": ou seja, A Morte Negra.

Grande negócio. Vou tirar a camisa, suar mais um pouco e ficar em casa.

Justiça na nota da 3ª foto: é a Lagoa Azul perto de Rejkjavic. Térmica. Ainda vou lá pedir o autógrafo da Bjork e do Sigur Ros. But not today.



O outro furacão Cris...

Dessa vez, a foto é mesmo satelital...

O furacão é aquela coisa amarela no cantinho direito inferior da imagem...

terça-feira, agosto 01, 2006


Amanhã ainda é terça?

Outra foto da Cris, portanto, pra segurar.

Segurar o quê?

A onda.

Só isso.

Our girl from Vitória da Conquista.


Jogada de efeito

Bem, isso vale um novo post. O fato persiste que (1) meu amigão do peito, o Edu de Caracas, acabou de comprar seu primeiro apartamento; (2) há mais de um ano que ele vem confiando no que eu cozinho;* (3) já ensinei a ele os mecanismos básicos de como fazer um bom feijão. honesta carne assada. Portanto, (4), nesse fim de semana só pra foder com a cabeça dele teremos um belo bobó de camarão.

(* No ano passado, mais precisamente entre junho e agosto de 2005, andava -- andava não, executava qualquer movimento perambulatório que não se confundiria jamais com o que chamaríamos de "andamento" -- com a rótula rota e perna enfaixada num "gesso" de fibra de vidro todo laranja que me fazia parecer mais baliza de trânsito do que uma própria baliza de trânsito.

Pois bem, durante a convalescência fiquei 6 semanas na casa do papai. E nesse período, o Edu trazia o Ford Probe '97 que ele acabava de comprar em 2ª mão para trabalhos intensos de engenharia e de mecânica.

Naqueles dias chegamos a uma divisão do trabalho: Edu pegaria nas ferrmentas e no peso das pesadas; Robert, meu pai, faria as pesquisas; e eu, Balla, faria o rango.

E o Pobre, digo, o Probe, rola até hoje.)

Fecho o parênteses mais longo de toda a minha história de escritor.

E no sábado teremos novo dia de surpresas: Bobó de Camarão.

Só pra foder com a cabeça do Eduardo.

Na foto: o Bobó da Dadá, no templo no Pelourinho. O barulho daquilo que cai sou eu.

segunda-feira, julho 31, 2006


Diversão Garantida

Para todos. Ou quase todos. Aos 0,0003 % da população da terra que ainda aturam o POTUS George W. Bush recomendo passar adiante.

Mas é o seguinte: no site aí embaixo você pode "agarrar" a cabeça dele com o cursor (ou o mouse, para os desadeptos da terminologia técnica) e espancar ela repetidamente contra as bolas.

Ele não morre. Como em qualquer tragédia grega sua queda é infindável.

Portanto, ladies and gentlemen, divirtam-se.

É aqui: http://www.planetdan.net/pics/misc/georgie.htm


Nota nada avulsa

Temos (que me perdôem esse plural imperial) uma amiga, Cris Gata, que anda mais sumida do que dente em bico de galo.

Cris é bahiana (bahiana se escreve com um ou dois bês?), natural de Vitória da Conquista. (E existe cidade com nome mais triunfalista do que Vitória da Conquista? Stalingrad? Ho Chi Minh City? Washington? Aracaju?)

Mas por tudo isso que não me aventuro a escrever, ando com uma saudade enorme da Cris, de seu cabelo picotado e olhar matreiro. Mesmo que ela viva no mesmo fuso horário, na mesma área metropolitana e que hoje respire desse mesmo ar de fornalha que assola nossa cidade.

Ah. E qualquer semelhança entre o gráfico e a pessoa é mera coincidência. Cego sou eu, meio vesgo e ainda com um terçol que me abate há quase uma semana…


Nelson's School
Agora que eu me lembro do menino irlandês de 1966. Ele usava um tênis diferente. As vezes era preto-e-branco; outras, era branco-e-preto. E em vez de cinto trazia uma corda amarrada na cintura. Na Nelson’s School em 1966 ele era bola fora.

Sabe-se lá por quê?

Naquela época tinha polonês, tcheco, egípcio… todo o bloco “Oriental” da europa da guerra fria e do Egito nasserita.

E tinha o irlandês com jeito de pobre, conforme o estereótipo, que mal sabia comer um queijo quente.

E tinha eu. Eu que não era ninguém, mas que graças às aulas de boxe no University Club em Washington, antes da partida transequatorial, sabia como manter a guarda e ainda desferir uma direita oportuna.

E por isso dizem que eu dei uma surra no xerife da turma, um tal de Pedro que morava na João Lira, e que nunca mais mexeu comigo.

Quando o que eu mais queria era aprender como se subia naquela árvore centenária que tinha no pátio.

Lá se vão 40 anos.. 40 árvores.. Entre a Teixiera e a Montenegro nos dias da Nelson’s School.

domingo, julho 30, 2006

Missing Bebel

To miss Bebel

You must first cross arid plains

And exhaust all water you have carried

Through lands blasted by light and heat

Where all color the sun has dried,

Evacuated, on an earth left brown

And sere and drizzled merely with the droplets

You might manage to extrude

Of precious sweat.



To miss Bebel

You must first cross the places

Where crosses have been struck in places

In homage to those who have travelled elsewhere.


Not Crusaders on a Mediterranean rampage,

Though some readers might imagine that,

Nor Maltese Arabs, Maltese Dogs, speaking

Phoenician tongues now spelt in a Roman Alphabet.


To miss Bebel

You must first divorce yourself from Bebel:

To separate from her eyelids, her eyelashes,

Her piercing look when the moon is at half-quarter.

From her voice through your ears when the stars

Seem so close to hand that they speak to you

Through her voice, husky and dark,

That you would turn to her voice

Expecting to touch it.


To miss her speech.

The last things she said

and how she said them.



To miss Bebel

You must first remember all this:

The woman who said all this,

who one day touched my arm to do all this

And how I thought

Better to forget all this,

having placed it in memory.

Not to know ever that it should return.


To miss Bebel

you must forget who you are

as you step up the steps

to relinquish your superfluous

superannuated self;


In Byzantium, in Jerusalem,

in Rio de Janeiro

And enter the portaria sem bater

the better to press the button on the car

That would take you to her floor.


The better to see Bebel

and to miss her

all over again

from the very beginning,

the point where she is ever to be found.




















La face d'une ville change plus vîte que mon coeur

Espero ser essa a última vez que me vejo forçado a citar Baudelaire nesse blog.

Pelo menos até que eu venha a falar de gatos, ou cisnes, ou putas.

É que sexta-feira à noite, na volta da esbórnia comedida com certos amigos, volto pra casa e topo com um aviso datilografado colado na porta do meu apê:

** ** **

Prezado Distinto:

Vossa senhoria tereis até às 15 horas do dia 1 de dezembro de 2006 para evacuar o espaço que vos é acordado pelos termos do contrato de xxx, e cuja recisão se vê prevista na cláusula yyy.

Saudações,

Zyx

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Era o tilintar da última ficha caindo. O berro repentino das trompetas da morte anunciada. O clique tão repentino de uma mudança em esquema de propriedade que eu acabei ficando mesmo tão surpreso apenas pela demora da comunicação do fato.

Mas agora é fato comunicado e eu tenho 4 meses pra trocar de casa.

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Nada tão grave como, digamos, uma tribo indígena forçada a se deslocar uns1.000 quilômetros sem água nem pão. Ou uma família libanêsa que sai do sul de Beirut. Eu ainda pertenço a um certo estrato social --dos profissionais de baixa renda, escolarizados até a medula, que trabalham no setor universitário – que têm como rodar a cidade inteira acionando todos os contatos.

Mas eu já não pertenço a mais nada. Vão demolir a minha casa.

La face d’une ville change plus vîte que mon coeur.

ps.: Chupei a imagem da tal da interweb. Não tenho nada a ver com a Califórnia (onde é diferente, irmão.)

Eu moro em Arlington, Virginia. O lugar mais antigo de habitação européia na América do Norte...