Notas Avulsas

sábado, julho 29, 2006


Para quem estiver em Washington, a boa da semana é o jazz “de grátis” no Sculpture Garden, ao lado da National Gallery of Art, ali pela 7th and Constitution NW.

Cada 6ª. Até o final da temporada no dia 15 de setembro.

Hoje foram as feras do Lenny Robinson Group: bateria, baixo, teclados e sopros de sax (tenor, alto e soprano) e mais a canja do próprio fera Lenny Robinson no trompete.

(Para os jazzmaníacos: http://www.jazzconnect.com/lennyrobinson/ )

O Sculpture Garden tem ao centro um lago (poça? fonte?) de uns setenta metros em diâmetro, com uma beirada maçica de granito horizontal em sua volta de uns 50 cm de largura.

Nas noites de jazz, ao redor da piscina, só sobra espaço entre as Dragões da Independência.

Vêem as mães jóvens com a filharada, vêm os negros velhos da Old School (entre a carapinha grisalha e o velhinho fashion de tererê…), vem as lourinhas e as ruivas com cara de irlandêsa ou de alemã e um certo tipo de corpo – o tórax alongado, as pernas curtas – passeando pelo pedaço, circulando nele, ou simplesmente sentados no granito.

Vi uma princesa, futura destruidora de corações, linda e bela e pulando ao lado das amiguinhas. E as amiguinhas, que pulavam também. E os amiguinhos. E todos que chegassem ao lado. Um bando da infância afro-americana, descalça na tarde, pais e mães misturados com os pés na piscina de 70 metros, a amiga da amiga da amiga monitorando a criançada.

Não é Miami nem Los Angeles. Passa de vez em quando a Loura Turbinada de Decote; Quarentona; passa a gostosa adolescente que te leva de volta ao Nabokov e Lolita; passam as feias, as gordas, as sapatas, as hipongas de queixo até aqui.

E com o passar das horas a gente olha o céu, turquesa e rosa pela hora, e a cada hora mais escuramente rosa, como se tudo fosse um Maxfield Parrish, depois de tantos anos.

E não choveu.

Nem hoje, nem nunca.



www.cantaremusic.com

Falei da Patrícia no post de abaixo. Se lembram?

Pois bem, nada mais justo do que devolver o favor:

O link dela é www.cantaremusic.com.

E a Pati é a gata voando no segundo plano.

Cecilia Esquivel, no primeiro.



Dimensão Histórica

Vou começar do começo. Tenho o privilégio e a honra de ser amigo da Patrícia V, V de virtuosa, que toca piano como ninguém com uma imaginação musical que deixaria o próprio Thelonius Monk espumando de inveja e taquicardia.

Pois bem, a Pati (que é do bem) também participa de um programa desenvolvido por uma ONG aqui em Washington cujo objetivo é trazer música ao vivo para comunidades de terceira idade.

Hoje à tarde a programação dela foi num Community Center para velhinhos em Adams-Morgan, bairro boêmio, imigrante, latino, africano, yuppie aqui no centro do burburinho do District of Columbia.

“São sempre calados, bem comportados,” disse a Pati, referindo-se não sei se aos membros da banda ou à platéia de costume nessas expedições que ela costuma fazer em sua sagrada missão de trazer música ao vivo de novo aos velhinhos solitários da cidade.

Só que dessa vez o povo era latino. A velharada (em breve também serei um deles) insistia nos boleros, nas rumbas, até nos tangos. Cantava junto. Conhecia todas as letras e até outras desconhecidas pela nossa bela e jovem Patrícia.

Foi então que, chegando meio ao final do programa, a gordinha grisalha espevitada puxou o braço da Pati: “Brasileña, brasileña, brasileña, ¿nó? Pués aquí tenemos un brasilero que quiere cantar contigo.”

Eis que se apresenta a figura distinta do “Brasilero”, cheio de charme pra cima da Patrícia (num esforço com o qual qualquer jóvem consentiria, diga-se de passagem).

“Meu nome é Donald. Fui jogador profissional de futebol no Rio há 50 anos atrás…

“Joguei no Botafogo, no Fluminense, no Vasco…”

E eis que o Donald saca da carteira lá do bolso de trás, abre, e produz uma foto dele ao lado de Nilton Santos.

E um cartão de visitas do Pelé, com o telefone do próprio em Nova Iorque no verso…

“E como foi que esse cara foi parar aqui em Washington,” perguntei incrédulo à Pati, horas depois, quando ela me contava essa estória.

“Não sei. Tive que sair de lá correndo pra vir pra cá. Mas ele me deu o cartão…”

E no cartão, que fisguei dela, está escrito: Donald P•ere•ra de A*ui•r. Professional Soccer Coach. 19** Columbia Road, Washington DC.

Vou ligar pro Donald amanhã e ver se ele topa uma companhia. Eu, de minha parte, toparia a dele.

Em breve virão as respostas.

sexta-feira, julho 28, 2006


Amanhã é o dia
E, portanto, vou levar a minha Wüsthof pra casa do meu amigo Edu e ensinar ele a preparar um bom feijão. Nada de extravagante: uma costelinha salgada, uma calabresa, talvez um tanto de paio.

Por cima, talvez um ovo estrelado: Botafogo com Disco Voador *, em homenagem ao Lito, gregario e fiel leitor, à Bebel ali no Posto 6, à Shirley, em algum lugar em Brasília, e à minha Amora Dourada, em algum lugar do planeta.

* Receita? Bebel fez à mão em http://bebelfazamao.blogspot.com/2006/05/botafogo-com-disco-voador.html

Detalhes infindáveis sobre a morte de Glória Menezes.

A cena toda. Her endless death.

E em seguida quem quiser a boa morte.

E em seguida a Regina Duarte meio descabelada?

Danielle Winits escutando tudo na lateral?

E os padres consagrando tudo com um sotaque ainda mais carregago do que o meu...



A Jogada, Certo Dia

Chegando, arrastando os pés.

Assim cheguei.

A chuteira, novinha em folha, apertava no pé.

Doía.

E eu não tinha tempo pra amaciar.

A beira do campo desatei os nós e resolvi jogar descalço.

Nada de novo na minha posição, meio líbero lá atrás pela esquerda,

Balançando pra direita quando vinha o ataque de lá

E no primeiro confronto com o Alemão,

Eu marcando fora de posição, não que importe,

O Alemão olhou pro chão pra tomar a medida do movimento

E viu meu pé descalço e no momento que quis dividir, recuou.

** **

Anos depois, no mesmo jogo, recebi a bola na linha de fundo

O mundo desacelerou e eu passei pelo último Fullback

Num drible que até hoje não entendi, pelo canto e entrando para o centro

Para o meu amigo Walter Mamolitti, milanês porém juventino,

Concluir para a rede.

** **

Hoje o Walter trabalha pela British Airways. Estará casado com filhos. Deve morar num subúrbio de Milão. E eu, ainda solteiro, velho demais para qualquer jogada em campo, continuo quem eu sempre era: um toque quando ninguém esperava, descalço para o pavor dos Alemães.

quinta-feira, julho 27, 2006









Jardim de Alá em agosto

Não aquela faixa que separa Leblon de Ipanema, mas um trecho de praia na orla de Salvador.

Trecho de praia que Hélio Arcanjo -- um dos três leitores desse blog, mas, de longe, o leitor com o nome mais sensacional -- me informa ser mesmo da Armação.

Para não falar mal do sol...






Manchete do Dia: Sun kills 60,000 a year, says WHO

Ou seja, “… mata 60.000 por ano, diz QUEM"

Foi a chamada na BBC News online hoje.

Na primeira batida de olho, achei que era “The Sun,” aquele tablóide de direita de Londres, que mata 60 mil por ano. E estranhei apenas a falta da marca de interrogação depois do who.

Depois vi que o assunto era outro. Que o WHO não era nem QUEM nem qualquer coisa a ver com Townshend e Daltrey e Moon. E sim a OMS: Organização Mundial de Saúde.

E que o Sun era de fato o Sol.

A matéria? Está em http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/5219540.stm

E não: prefiro não misturar câncer com sarcasmo. Nem confundir a sinistra News Organization do Mr Murdoch com a integridade da BBC.

Foi apenas um deslize de leitura.

** ** ** ** **


Ah. E não adianta clicar no gráfico do Sun neste post. Não leva a lugar nenhum. Assim como todos os outros produtos da News Organization.

terça-feira, julho 25, 2006


aprendizado



Claro que comer é muito bom.

Mas para um rapaz que mal sabe caminhar, saber cozinhar é muito melhor.

O aprendizado começa no feijão.

Portanto…


e dos bolinhos
de bacalhau há 500 posts atrás...

como se só agora eu me lembrasse das pataniscas, pataníseas, patavinas de bacalhau que faziam no Pavão Azul na Hilário de Gouveia, entre a Barata e Tonelero. De cara pra 13ª DP. Ou do bobó de camarão que a mulher que cozinhava lá pra eles trazia congelado nos fins de semana. E o português chato, marrento e antipático, até meio ladrão, que comandava o balcão do Pavão Azul... que te olhava com aquele olhar chato e marrento de dono de um tesouro e como se você, freguês, implorasse um favor...

Alerta a todos. Eu aprendi a fazer Pataniscas. Não há mistério. Bacalhau, água, braço e cuidado e ovos. Faz-se em qualquer ponto onde se tem um bom bacalhau demolhado.

Enquanto isso, na Rua Joaquim Nabuco...
ou até na Francisco Otaviano...
sem falar da Rainha Elizabete (da Bélgica)



Miss Universe
Me disseram que ontem (ou ante-ontem) houve concurso final de Miss Universo.

Regsitro meu voto pela Miss Japão.

segunda-feira, julho 24, 2006


Baseball Movies…

Dizem que o melhor de todos foi “Pride of the Yankees,” (1942, Sam Greenwood). Cine-“biografia” de Lou Gehrig, um dos grandes dos NY Yankees, que desenvolveu uma doença neuro-muscular até então não-diagnosticada, de ação progressiva, acachapadora e fulminante. (Hoje em dia aqui nos ee uu ainda é apelidada de ‘Lou Gehrig;s Disease.’)

Estrela no cartaz: Gary Cooper. Filme rodado nos anos de ouro do baseball americano (antes da perda da fatia majoritária do esporte do mercado ao chamado “futebol americano” que ocorreria 15 anos depois. Coincidente também – essa mudança de preferencia de modalidade esportiva – ao mundo sinistro das soluções hecatômbicas da Guerra Fria.

Eu não vi Pride of the Yankees, portanto não posso te dizer se é motivo de orgulho ou de vergonha ou de qualquer passada entre um e outro. Mas Gary Cooper já desfere certa imagem de como o filme poderia ser.

** **

Travelling rápido para os filmes “sérios” da nossa geração.

“Bang the Drum Slowly”, de 1973, com Robert de Niro. Baseball apenas como pano de fundo para um enredo sobre morte por câncer.

“Star Wars”, 1977. Isso mesmo. “The Force is With You.” How to hit that pitch.

“Bull Durham,” 1988. Kevin Costner é o catcher veterano que quer comer a tiete-boleira Susan Sarandon. Tim Robbins, o pitcher rapazinho, bôbo e indisciplinado, é o otário que o Kevin Costner tem que amadurescer para alcançar seu potencial. No filme, a Susan ficou com o Kevin. Na vida real, ela ficou com o Tim. Need I say more? Vale apenas pelos minutos de monólogo interno do KC no batters box.

“Eight Men Out,” 1988. Dir. John Sayles. Tentativa de reconstrução do escândalo de 1919, quando uma bolsa de apostadores resolveu comprar os resultados do campeonato. Belo filme (como todos do Sayles) sempre empenhado em certa verossemelhança “histórica”. As sequências que recontroem a WS de 1919, entre os White Sox e os Reds, no entanto, forçam nas cores. Não há esporte que tolere tanta moralização. Nem na película. Destaque, no entanto, para Shoeless Joe Jackson. Capiau bom de bola que ficou por for a do arreglo.

“Field of Dreams.” Who cares? Outro delírio com o Kevin Costner. Shoeless Joe Jackson, o Friedenreich do basebol, campeia glorioso. O resto é uma bobagem sentimentaL.

“A League of Their Own..” (1992) Geena Davis x Tom Hanks. Reconstrução romântica (e cuidadosa) da All-American Girls’ Professional Baseball League. As sequências de jogo são melhores do que Field of Dreams (onde não tem sequência de jogo) e a narrativa de viagem de jogo-a-jogo muito melhor do que Bull Durham. De repente o melhor filme moderno sobre o baseball é mesmo esse.

“For the Love of the Game.” (1999) O enésimo filme de Kevin Costner com baseball no meio. Evitem. A todo o custo. A menos que a reiteração de todos os chavões sobre tudo (“Menina, você sempre foi minha estrela…”) provoquem algum calafrio.

“The Rookie” (2002) Com Dennis Quaid e… Rachel Griffith. Filme simpático num gênero surrado: o jogador passado e surrado quer dar a volta por cima, E consegue. Só que dessa vez todo o mundo convence.


Correspodentes

Não no sentido de sermos sucursais do centro, filiais da matriz, os que vêem de longe escrevendo pros que lêem de perto.

Mas só isso: outro dia eu li num outro blog – um blog de leitura e participação maçica, o blog do Lédio Carmona, o exemplar “Jogo Aberto” – uma pergunta de um leitor conhecido, Emerson, dirigida nem tanto a mim como a quem pudesse responder, que consistia nisso: qual um bom filme de baseball pra se ver.

That’s right.

É que o Emerson é um rapaz (tosse profunda pra limpar a garganta) que eu nem conheço, mas que já venho lendo há mais de um ano. Tem o seu próprio blog, que é espetacular. Escreve como Balzac, com uma limpidez necessariamente prolixa, no melhor sentido do termo, porque a escrita dele possui uma assiduidade narrativa sempre empenhada em ligar uma coisa às três proximas coisas.

Embora eu fale pouco de Emerson aqui – pela Lei Universal de Quem Distribui as Falas, não sou eu o contraventor – digo apenas que seu único defeito é ser sampaulino, e portanto estar em momento astrológico propenso a triunfalismos, mesmo que ele seja o último a aceitar esse veredito e que apesar de todas as suas juras ao contrário tenha sofrido como o mesmo cão abnegado que fui eu naquela tarde de França contra Brasil em Dortmund, ou onde quer que tenha acontecido aquilo.

Mas nada disso importa. Somos Correspondentes porque respondemos às mesmas coisas.

E a pergunta (por mais oblíqua que fosse minha recepção dela) do Emerson na semana passada foi essa:

-- Qual o melhor filme de Beisebol pra se ver?

A resposta, my dear Emerson: Nenhum deles.

Desenvolvo no próximo post.

I swear.

(continua…)

Absolutamente nada a ver com a final da Copa do Brasil




É apenas a foto de uma porção de bolinhos de bacalhau que tirei há alguns tempos atrás num certo restaurante na Avenida Atlântica, no Posto Seis, na ocasião que eu julgava ser a última saideira antes da carona que me levaria ao Galeão para embarcar naquele vôo infindável de volta pra casa. Só que o vôo fora "overbooked" e a empresa me ofereceu uma noite "de grátis" no Hotel Gl*r*a. Coisa que eu rapidamente aceitei, já que eu não tinha a menor vontade de voltar pra casa. (Aliás, foi na manhã seguinte àquele pernoite inesperado no HG que eu subi a ladeira pra Santa Teresa e tirei aquelas fotos que postei mais embaixo: tramas do acaso, tão somente.)

E para quem cismar -- em que pese todo o meu protesto contrário -- que a inclusão da foto de cima teria a menor conotação partidária relacionada ao embate entre Flamengo e Vasco de logo mais, incluo outra imagem. Para que os leitores tirem suas próprias conclusões.