Notas Avulsas

sábado, agosto 26, 2006

Férias são férias

Dizia Walter Benjamin à certa altura que os melhores contadores de estórias eram os marinheiros e aqueles que voltavam de viagem.

Pois ontem o Notas Avulsas topou com com o J Caicedo, amigo da redação, e voltante de viagem relâmpago ao Rio, Búzios, Paraty e Trindade.

Everything a growing boy needs.

Pois conta o JC (não, leitoras, nem espelho de CJ nem iniciais de Jesus Cristo) que saiu de carro alugado do Rio pra Búzios e levou uma dura da polícia rodoviária lá pela altura de S Pedro da Aldeia.

Viram o passaporte colombiano de JC e foram logo chegando à certas conclusões: vistoria geral.

JC, que conhece a rotina de Bogotá pra cá, foi logo se posicionando.

E os guardas da PRF, estranhos a tal comportamento voluntarioso, pediram pra ele ficar mesmo à vontade.

Claro que nem cigarro encontraram. (JC não é fumante.)

E liberado e chegando em Búzios, terra de mosquitos e de argentinos, foi logo caminhando de praia em praia tomando uma branca em cada uma que tivesse nome e barraca.

Férias são férias.

E ele voltou ileso.

Quem te viu, quem te vê

Minha amiga de alma, gêmea de espírito, MGA, residente por temporada de trabalho em Buenos Aires, vai passar o fim de semana em Colonia del Sacramento, cá deste lado do Prata.



Quando se chamava Colônia, era o último arredor do império brasílico às márgens do Prata. De cara para Buenos Aires.

Imaginem se os espanhóis tivessem posse de Praia Grande. Vulgo Niterói. Até, digamos, 1833...

Puro medo, né?

sexta-feira, agosto 25, 2006

Words?




































Pra quê palavras se beijo na boca é tão mais simples?

São as fotos de hoje da sexta no Sculpture Garden.

ps: Este post (scriptum) é dedicado integralmente à minha fiel leitora em Brasília, S***ley V••ela. (Flecha te manda montes e montes de beijos).

quarta-feira, agosto 23, 2006


psiu, fala baixo

Nem na loteria, mas tem dias quando a Sorte Grande nos contempla.

Pois foi ainda agora que o Notas recebeu um toque da Larissa, blogueira soteropolitana.

Como essa menina escreve.

Leiam vocês em Do outro lado do espelho.

**

Nota de redação da redação do Notas: a imagem é mesmo facsímile de um bico de pena de Lewis Carroll. Dele mesmo. Sem Disney Studios: Simplesmente Alice.

E cliquem na imagem pra ver a versão ampliada. Vale a pena.

Move over Lamartine

E não é que o meu chapinha de escritório venezuelano agora só aparece no trabalho com a marmitinha térmica recheiada carinhosamente pela S*lvia, sua mulher, em visita de Caracas?

Pois hoje no almoço, enquanto eu mastigava um misto frio comprado do bandejão, horroroso e trágico, e olhava ele metendo o garfo na carne assada com molho ferrugem que eu mesmo lhe ensinara a preparar, surgiu a idéia do nosso próximo micro-empreendimento de ambição absurdamente imperial:

Organizações Marmikente SA.

Não é nada.

Mas já acertamos o tempero do jingle:

Marmikente, Marmikente
Chega de kombi, vai de metrô
É comida honesta pra gente
Pro operário e pro doutô

(E óia aê o marmikente, minha gente...)

Sai de noite, sai de dia
no almoço e no jantar é a alegria
é o Marmikente
chegando urgente
comida boa e gostosa
na tua frente.


(Chapéu ao Chico da Kombi, leitor incansável e co-blogueiro, por ter emprestado a Kombi. Sem ele o verso e a vida seriam ainda piores.)

Pimenta é fogo

Na ilha de Sumatra, na Indonésia, um bando de 18 prisioneiros tentaram fugir de uma prisão.

Armados com que armas clandestinas, contrabandeadas?

Com pouco mais do que a pimenta ardida do dia-a-dia, dissolvida em água, para jogar no rosto da guarda carcerária.

Dezesseis dos 18 já foram recapturados.

Dois seguem ainda à revelia das autoridades.

Mas garanto que o futuro desses dois ainda há de ser muito doloroso. No mínimo, pelas próximas 72 horas.

A BBC informa.

terça-feira, agosto 22, 2006

Forehand Smash

Subiu para a 17ª colocação no ranking do circuito feminino Ana Ivánovic ("ivânovitch") sérvia de 18 anos, após a vitória de ontem contra Martina Hingis (6-2, 6-3) pelo título da Rogers Cup em Montréal, Québec. (Canada, América do Norte, Planeta Terra, etc.)

Já está em Nova Iorque para o US Open.

Flushing Meadows, semana que vem, vai ter alergia àquele beisebol que jogam ao lado em Shea Stadium.

Sorry, Mets.

éramos nove

Plutão, aquela pedrona lá na puta que pariu, acaba de ser rebaixado da categoria de "planeta" à categoria de "planeta-anão."

Que não me falem do Fluminense...



but we’ll always have Paris...

Hoje, a câmara municipal de Chicago proibiu a venda de foie gras em restaurantes daquela cidade, prescrevendo multas entre $250 e $500 (USD) para quem for flagrado violando a medida.

O prefeito de Chicago, Richard Daley, já caracterizou o ato como a lei mais boba em toda a história da cidade. “E os escargots, os mexilhões?” comentou. “E as lagostas?”

Poupou-nos da lembrança que Adolph Hitler, entre outras coisas, também era vegetariano.



Pra Daisy, pro Moby...

... e pras Bebéis.

De Marco Morosini.

Onde?

Aqui.

Lang lang wies fra Rio

and a lang lang wie fra hjem.
as hazard would hae it
to write in Scots
or even bother to write in Scots --
the language that could have been and never was --
and for all my ancestral energies
that have blended elsewhere
It doesn't shame me to join
a Roman Empire or two
in their equally farflung and implausible
Lusitanian provinces
where time and its ill-abode
consign us to these other barbaric tongues
derived of empire,
like you, my dear,
your olive face articulate in all protestation,
as you wander from my eyes and tell me
over your shoulder,
that I am indeed a puerus, a child to you.

A British barbarian, while you, Germanic or Levantine Jew--
who had not quite explained this to me
not that to me it would matter,
except to know how it might matter to others--
would presume me a convert to the parties of the whole of the empire
east and west, and their cult of christendom -- pretty ideas, I must say --
though I never quite bought the business of the pregnant mother who is unfucked
nor of a son who arises and proclaims that he came from a mother, unfucked
except by god, and that this to all should explain her virginity.

Pause on this point.
Heresies were established
and people were incinerated over this doubt.

Lang lang fra hjem.
Det var lang ago...

Longer than all I could remember ever
than even I could think to remember

Except when I look into your pale brown eyes
and wish only the flesh round your pale brown eyes
and your pale brown eyes,
and you, perhaps, or what I presume to be you,
attached to them,
on a day when you are quiet
and when I am without concern
for fleeting moments to be fully beside you.

to whisper in your ear
with no pressing urgency
that nothing any longer
no longer is presumed.

from the very broken field
which I myself
have mistaken
for history.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Distância?...

Hoje à tarde passou por meu escritório o Rafael, bom rapaz de BH, pra atualizar o anti-virus.

Além de advogado, músico e guitarrista.

Like any proper boy from Minas Gerais.

E ele me perguntou o que eu andava ouvindo.

--Hoje em dia, respondi, sobretudo Zeca Baleiro.

E ele:

--Ah. Pela saudade, né? Aquela coisa de Brasil.

E eu:

--Não. Nem um pouco. Quando tenho saudade ouço Beatles. Zeca eu ouço por gosto mesmo.


Hiponga Paisley Again

Essa veio de Buenos Aires.

Puro miedo.


Requiescat in pace

Mas nem tanto

Pois hoje à noite leio do falecimento de Eduardo "Caixa d'Água" Viana, um dos "executivos" mais identificados com a corrupção decadência do futebol do Rio de Janeiro.

Levanto a taça e brindo à sua passagem ao caminho da imortalidade.

O futebol no Rio de Janeiro jamais será o mesmo.

Segunda Sinistra

O retorno do reprimido

Entrei no metrô de pé esquerdo. O vagão quase vazio em manhã de segunda-feira. Sentei naquele banco reservado (mas apenas preferencialmente) para idosos, grávidas, cegos, o que seja. Enterrei o nariz no livro da vez. O suor da caminhada evaporava naquela circulação do ar condicionado. Não havia ninguém sentado ao meu lado.

No meio da segunda frase começo a ouvir a voz esganiçada e caudalosa da menina sentada à minha frente, relatando os causos do fim de semana para quem estivesse à sua volta:

-- So he’s like...
-- And I’m like...
-- And she’s like...

Tudo com aquela intonação ascendente ao final de cada frase, como se cada momento fosse sempre uma interrogação, mesmo que de questionamento não contivesse nada. Apenas o relato da abelha-rainha diante de seus três súditos.

** ** **

Deve ter sido uma tremenda estória. Porque quando levantei de novo o nariz do livro para ver a origem daquela voz que me torturava há quatro estações, vi apenas uma menina meio pós-adola gesticulante (e um pouco acima do peso), um ruivinho muderno ao lado do banco dela, e duas jóvens de nula característica embevecidas com a narrativa no banco perpendicular.

** ** **

Foi quando me feriu, e não sem certo remorso obtuso (sorry, Murilo Mendes), certa recordação de sexta-feira passada pelo diálogo que entretive com a Macacona Loura (aquela, inconfundível, no meio da foto de dois posts atrás) ao lado da fonte na Sculpture Garden na noite de jazz.

Ela (e mais a magricela de blusa verde) vieram sentar ao lado da gente.

Assim que acendi o terceiro cigarro da noite, e antes de um minuto completo de ignição, ouço sua presença invadindo minha fronteira:

--Could you move your cigarette somewhere else.

Olhei pra ela: uma expressão de desagrado petulante encrespado por irritação territorial, ou respiratória. (Dela, não minha.)

E eu, like:

-- I will if you ask me politely.

E ela:

-- I thought I had.

And I’m like:

-- No. You did not.

Pois ela havia “pedido” com o rosto tão cheio de desgosto, com um certo tom de voz tão carregado de rancor de “sanctimonious entitlement” frustrado – uma categoria subjetiva-política tão ontologicamente absurda que só pode existir mesmo em Washington – que eu acabei, like, levantando assim mesmo e falando pro meu amigo venezuelano que, like, what the fuck?

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E de vingança, resolvi postar a foto dela: a Macacona Loura, entre duas gazelas, há dois posts atrás.

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Exato, boa leitora: é aquela mesmo.

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Nota da Redação: graças à intervenção sensata do meu fiel leitor Emerson, pude reparar a calúnia antes que o tempo com ela fizesse seus estragos. Onde se lê agora "Macacona Loura" antes se lia "Vaca Holandêsa." Emerson teve a fineza de apontar, com sua elegância discreta e justa, a injustiça preconceituosa que eu cometia contra a imagem, a essência e a vivência das nossas amigas bovinas, nobres e serenas.

Já as macacas? Quero mais que se fodam.